segunda-feira, 28 de abril de 2025
Das 24 às 24
sábado, 26 de abril de 2025
tarde demais
as placas
berram no asfalto quente do A. Texas
“leve seu lixo para casa!”
“preserve a natureza!”
“atenção: morada do tuco-tuco!”
como se palavras pudessem conter a estupidez humana
como se alertas em madeira ou metal pudessem domar os cães famintos
ou deter os riquinhos em seus quadriciclos,
rasgando as dunas e praias como se fossem deles
como se tudo fosse deles
como se sempre fosse deles
o
tuco-tuco não lê placas
ele cava, se esconde, sobrevive
até que um pneu o esmague
ou um cão o devore
e eu?
sou só mais um roedor urbano
olhando pro horizonte turvo
preso entre prédios e ruas vazias e promessas vazias
esperando a ratoeira fechar
as placas
continuam lá
firmes, inúteis, ignoradas
como preces em um mundo sem deuses
tarde
demais para arrependimentos
tarde demais para esperança
tarde demais
(B. B.
Palermo)
segunda-feira, 21 de abril de 2025
Sei no que vai dar!
terça-feira, 8 de abril de 2025
O psiquiatra conhece!
No Instagram, me deparo com uma
entrevista de um psiquiatra
falando a respeito de uma droga
ministrada a pacientes terminais, desenganados.
Diz ele:
“Nos cuidados paliativos, quando a
pessoa vai morrer,
dá-se uma dose dissociativa de um
psicodélico e a pessoa pode ter um êxtase,
uma epifania, e entender que não
existe a morte, que tudo tem começo, meio e fim,
e o fim nada mais é do que o epílogo
de um episódio unido
com o prólogo de outro episódio: morre
pra cá, nasce pra lá,
numa outra dimensão.
Morre na outra dimensão, nasce pra cá
nesse mundo material onde nós vivemos,
e nós estamos condenados ou premiados
a viver eternamente na nossa companhia.
Caraio, véio! Tenho que me dar bem
comigo mesmo
porque não tem como escapar de mim!
Enquanto tu estiver aqui, para viver
o melhor possível
e expandir tua consciência, que é o
que tu tanto busca,
sirva mais e ame melhor, simples
assim!”.
Mostrei isso para alguns personagens
e eles se manifestaram.
Diz o Cadelão:
“Carai, véio! Que viagem
depois de ter sugado um balde de
Ayahusca...”.
Eis o que diz o Damo do Cachorrinho:
“Kkkkk... eu nem achei tão louco o
que ele disse, traz algum sentido.
Como saber se nossa consciência não
vai viver em um metaverso
baseado em nossas experiências em
vida, e passaremos o resto da eternidade
com nós mesmos? Kkk
*É só suposição. Estou lúcido. Haha...”
De novo o Cadelão:
“Rapaz, olha que terrível seria, não
aguentamos nossa companhia nessa vida,
imagina passarmos uma eternidade nos
vendo no espelho e gemendo...
‘Não, não, não! Fiz m* de novo!’ Kkkk”.
Outra vez o Damo:
“Bah, nunca fiz essa autoanálise...
Só exames de sangue.
Vou consultar meu guru, o Leandro
Karnal... hehehe”.
Pitaco do Carleone:
“Falei com meu alter ego, o Augusto
Severo, e ele diz que o doutor tá certo com os cogumelos e tá fazendo poesia”.
Pra fechar, eis a opinião do Beiço:
“Esse usou mais drogas do que eu!”.
(B. B. Palermo)
terça-feira, 25 de março de 2025
Foi o que deu pra fazer
Dei o livro pra uma amiga que estava
de níver,
nos seu 90 anos bem vividos,
e o Lutero, o cara do pub, exclamou,
depois que leu a contracapa:
– Palermo, tu escreve pornografia!
Foi aí que a Sibila, minha paixão
insensível,
meteu-se na conversa e amenizou:
– Queridos, não peguem pesado!
O Palermo está meio perdido nessa
eterna busca
por uma mulher Alfa, enquanto ainda
tropeça
e cai nos braços de umas putas.
Não estressem o pobrezinho.
É como ele sempre diz:
“Foi o que deu pra fazer”.
(B. B. Palermo)
domingo, 23 de março de 2025
Coisas
Assim que a noite cai,
carros e motos passam pelas ruas
como ratazanas brotando às centenas de
suas tocas,
e uma verdade toma conta do meu ser:
eu não consigo mais me apegar
a essas coisas.
Li que o governo quer liberar
impostos
para idosos
na compra de veículos.
Fico em pânico, olho pro céu e
pergunto:
– Pra que tanto automóvel, meu Deus?
Pausa, silêncio e aí percebo
que Deus cuida
de coisas mais relevantes.
Eis que passa na avenida uma motinha
toda fodida
e com descarga aberta.
Hoje em dia, minhas perguntas
ao todo poderoso
não fazem qualquer sentido.
(B. B. Palermo)
quarta-feira, 19 de março de 2025
Um quilo de erva
O ônibus não estava lotado e eu poderia
sentar
mais na parte da frente, mas escolhi
o fundão.
6 poltronas e duas criaturas postadas,
uma em cada lado, junto à janela.
Fiquei na poltrona central e segurei
a mochila no colo.
O cara da direita era enorme e tinha
uns olhos verdes
parados, fixos, provocando a minha
atenção.
Na poltrona da esquerda, um serzinho,
como eu diria... complexo...
unhas pintadas, voz de
pré-adolescente encantado com o Cazuza,
quando cantava “quem sabe ainda sou
uma garotinha...”.
Eu estava no meio de olhares
cruzados, fixos nos meus.
Decidi encarar de frente o(a) garoto(a)
e tive uma bela surpresa:
uns olhos verdes cheios de vida e
malícia.
A criaturinha apanhou, de uma sacola
plástica, um latão de Skol
e – ao abrir – deu aquele estalo.
Foi o suficiente para os passageiros
se virarem de seus tronos
– indignação, risadinhas, questionamentos:
– Cadê o motorista? Ninguém faz nada?
O ônibus seguia naquela sofrência
urbana
e os dois pares de olhos verdes me
encarando.
Refleti: “Não sei quem eles são nem sei
quais as suas intenções...
e eles também não sabem quem eu sou”.
Poderiam acreditar que eu era um
alemão ou gringo policial à paisana
portando na mochila uma pistola 9
milímetros.
Me veio, primeiro, a sensação de que estava
num lugar perigoso
e de que o correto seria me bandear
lá para a frente do ônibus.
Coloquei em prática um outro plano:
– Aí, Déby! Que lindos olhos, hein?
Chocante!
Escuta só, dá um gole dessa Skol!
Devo ter falado num tom de voz mais
elevado,
porque uma senhora reclamou:
– O motorista tá vendo tudo e não faz
nada?
Dei um golão, e falei:
– Vocês não vão acreditar no que eu
estou levando.
– O que é??
– Um quilo de erva!
Abri o zíper da mochila e apanhei um
pacote
com dois pares de olhos totalmente
fora de órbita
aguardando o desfecho da conversa.
(B. B. Palermo)
terça-feira, 11 de março de 2025
Um velho problema
Velho
problema: a cerveja desencadeia uma alegria,
ações
rebeldes driblam a autocensura,
o que
era preto e branco torna-se colorido,
o feio
torna-se belo e minha poesia vê rosas
e nenhum
espinho.
Vocês
sabem como é,
a conhecida
e reconhecida carência sai do armário
e dança
à flor da pele e o velho escroto transforma-se
num
menino apaixonado.
Mas –
vejam bem – no dia seguinte
a
realidade pisoteia a alma
e a
razão faz sangrar o coração.
Se ela
aparecer no prédio num andador
procurando
pelo escrotinho do apê 0800,
com olhinhos
faiscando e uma bengala em riste,
digam
que ele foi descansar e dar um tempo
em
Aldebaran.
(B. B.
Palermo)
sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025
quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025
Esaú e Jacó – Machado de Assis
“O tempo
é um tecido invisível em que se pode bordar tudo, uma flor, um pássaro, uma
dama, um castelo, um túmulo. Também se pode bordar nada. Nada em cima de
invisível é a mais sutil obra deste mundo, e acaso do outro”.
“Aires
vira nascer e morrer muito boato falso. Uma de suas máximas é que o homem vive
para espalhar a primeira invenção de rua, e que tudo se fará crer a cem pessoas
juntas ou separadas”. (Livro publicado em 1904).
segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025
Um é insuportável, dois é de mais
Caminhava
em direção à praça e ensaiava pensamentos
pra
cima, tipo Hoje serei o cara, um privilegiado,
coisas
bizarras marcarão encontro comigo!
Garotas
e garotinhas entravam nos mercados com as roupas de banho,
vinham
direto da praia e sua fome e sede, aposto,
eram
do meu tamanho.
No
centro da praça o DJ testava o som num volume
que
até espantava os pobres peixinhos, os papa-terras
que
senhores disciplinados e cheios de fé pescavam
desde
a madrugada na praia, logo ali.
O
cretino meteu uns sons bem pancada.
Lembrei-me
dos ancestrais batucando e dançando ao redor da fogueira
em
noites de terror, numa época infantil da humanidade.
Aliás, que época vivemos hoje?
Então
o DJ botou pra rodar a “Eguinha Pocotó”.
Não
teve jeito, caí do cavalo!
Verão,
praia, sábado de noite, óbvio que a multidão avançava
e
a praça engrossava.
Bebi
algumas caipirinhas e a música melhorou.
Eis
que ela apareceu, pegou na minha mão e eu em sua cintura
e
dançamos uma porrada de sambas.
Patrocinei
umas caipirinhas de vodca, que ela bebeu num canudinho
e
não dividiu comigo.
–
Meu bem, você pode ter dois caras, eu não tenho ciúmes,
tenho
lido sobre o poliamor!
Botou
as mãos em volta do meu pescoço e fomos com tudo
num
samba do Adoniran.
Outra
caipirinha – que eu paguei e ela bebeu sozinha –,
e
então murmurou no meu ouvido:
– Querido, se um traste já é insuportável,
tu
imagina eu com dois!
(B. B. Palermo)
Uma galera parruda
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