O convite pra missa de sétimo dia era de um boêmio qualquer,
catado num jornal de quinta, de uma década
que ninguém mais sabe localizar.
Um deles assobiou, com aquele riso de quem tá prestes a te foder:
- Manda essa pro Palermo.
Caiu na mesa como sentença.
Vieram gargalhadas, tapas nas costas.
- Ele deve estar por esse caminho, kkkkk.
A mesa inteira virou um curral de hienas.
Aí um terceiro, um pilantrinha graduado, se aproximou
com aquele meio-sorriso que nunca anuncia coisa boa:
- Olha o juízo que fazem de ti, Cadelão.
Respirei. Procurei uma saída digna, ou pelo menos apresentável.
- Gurizada, nasce aqui um novo homem.
Falei como quem tenta convencer os deuses e a si mesmo.
Tenho uma namorada que me arrasta pra academia todo santo dia;
minha pança já desinflou uns sete quilos.
Ela tem braços e coxas que parecem treinados pra derrubar
qualquer desgraçado que respire errado ao lado dela.
Agora só bebo nos finais de semana…
O amor transforma, meus queridos. Inspira. Aleluia.
Foi então que os desgraçados mandaram o golpe final,
aquele chute no focinho já machucado:
- Um velho cão também precisa de cuidados, kkkkk.
E, juro, nesse momento ouvi uma voz rouca,
um cheiro de cigarro barato e uísque ordinário.
Bukowski, o velho safado, sussurrou no meu ouvido:
- Palermo, reage. Contra-ataca.
Não deixa que mijem na tua cabeça.
Vai. Pega pesado.
Tu ainda é o representante oficial dos fodidos -
os que tropeçam, caem, mas seguem escrevendo
como se a vida dependesse disso.
(B. B. Palermo)
