quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Somos uns FDP tão burros que até parecemos ingênuos




Estamos juntos, com nossas bicicletas e esteiras e cacetes e xotas abandonadas num canto.
Estamos juntos, com nossas veias entupidas de tanto transportarem frustrações.
Me identifico com todos, por isso estamos juntos. Flutuo entre uns caras surdos que berram toneladas de amenidades e depositam numa latrina minha sede.
Estamos juntos, com nosso cabelo cada vez mais ralo, nossas olheiras e dentes mal cuidados, nossas orelhas mergulhadas na cera, nossas mulheres que funcionam como babás.
Nossos aluguéis atrasados, nossas mansões e venenos derramados nas plantações e nossos bebês prematuros e seus defeitos, como se recebessem uma tatuagem ou marca, a nossa idolatria ao progresso.
Estamos juntos, com nossos carros econômicos e limpos e brilhantes, como se fossem limusines, com nossas festas de fim de ano, da empresa e da escola e da família, e nossas postagens bonitinhas nas redes sociais com aquela ortografia horrorosa.
Estamos juntos, com nossos chás emagrecedores e frutas que apodrecem na fruteira e legumes mofados na geladeira. Adoramos citar Clarice Lispector e Martha Medeiros e Mario Quintana, aquelas merdas de autoajuda que fingimos não saber que não foram esses caras que escreveram.
Estamos juntos nessa de sermos uns filhos da puta tão burros que parecemos ingênuos.
Estamos juntos com nossa raiva que faz estragos, como se fosse granada explodindo no meio da multidão. Nossas respostas amargas e ríspidas a quem nos contraria revelam imensa fraqueza. É como se abríssemos uma clareira na floresta usando facão sem cabo e sem usar roupa ou qualquer proteção, totalmente nus e expostos às investidas de cobras e insetos.
Estamos juntos nessa de nos considerarmos anjos rodeados de cobras e insetos.
Estamos juntos, com nossos lençóis limpos, sacadas arejadas e amantes discretas e compreensivas, como se existissem apenas no imaginário. Estamos juntos, mulheres perfeitas existem apenas no imaginário. Estamos juntos, homens perfeitos não existem. Me conheço.
Estamos juntos. Se me perguntarem: Pra 2020, escolherei Cristo ou álcool ou drogas? Simplesmente responderei:  Sou todo Lucy, com seus peitos e coxas e bunda musculosa e sacadas espirituosas e sotaque portunhol que bombeia meu sangue até os países baixos e sua personalidade inesquecível que amarei eternamente no ano que vem.
Estamos juntos e sabemos que somos anjos protegidos por nossos deuses e ídolos do esporte e da música e da política, seres reais e imaginários, responsáveis pra dar sentido pra essa vidinha de filhos da puta pra lá de burros, mas tão burros que até parecemos ingênuos.

(B. B. Palermo)
                                                        

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