quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

MEUS FANTASMAS PARECEM CORVOS


Um senhor vinha pala calçada,

aproximou-se e tive calafrios:

ele era eu.

 

Nuvens no céu desenharam

criaturas de nossa fauna:

cães, gatos, jacarés e lagartos

com suas formas desfiguradas.

 

Entardecia e as cores estavam vivas

e imploravam pelas tintas, pincéis

e o cavalete de Van Gogh.

 

O senhor eu mesmo tinha barriga acentuada,

cabelos brancos e pretos misturados,

e pareciam crescer

despreocupados.

 

Enfim chegou o crepúsculo,

luz e trevas duelando.

 

Olhava para o senhor e me via,

nenhuma dor ou alegria.

Ele eu mesmo carregava uma sacola

e uma mala,

poderia estar indo à escola

para aprender o que se perdera.

Poderia estar voltando

de uma tarde de bons negócios.

Poderia estar saindo de casa,

livre de um matrimônio

de 30 anos.

 

O senhor é meu espelho,

dossiês revelando

meus sucessos,

fracassos,

fiascos.

 

Tenho medo de sair de casa.

Sinto calafrios

ao ver esses fantasmas

rondando por aí

 

feito corvos.

 

(B. B. Palermo)

Deu vontade de chorar

Hoje vi o amor. Não nos livros, nem nos filmes, mas ali, nas ruas quietas do A. Texas, caminhando manco e sem pressa. Era o Sergião, andaril...