Um senhor vinha pala calçada,
aproximou-se e tive calafrios:
ele era eu.
Nuvens no céu desenharam
criaturas de nossa fauna:
cães, gatos, jacarés e lagartos
com suas formas desfiguradas.
Entardecia e as cores estavam vivas
e imploravam pelas tintas, pincéis
e o cavalete de Van Gogh.
O senhor eu mesmo tinha barriga acentuada,
cabelos brancos e pretos misturados,
e pareciam crescer
despreocupados.
Enfim chegou o crepúsculo,
luz e trevas duelando.
Olhava para o senhor e me via,
nenhuma dor ou alegria.
Ele eu mesmo carregava uma sacola
e uma mala,
poderia estar indo à escola
para aprender o que se perdera.
Poderia estar voltando
de uma tarde de bons negócios.
Poderia estar saindo de casa,
livre de um matrimônio
de 30 anos.
O senhor é meu espelho,
dossiês revelando
meus sucessos,
fracassos,
fiascos.
Tenho medo de sair de casa.
Sinto calafrios
ao ver esses fantasmas
rondando por aí
feito corvos.
(B. B. Palermo)
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