O velhinho passou vagarosamente. Esforçava-se para amenizar os vacilos que o distraiam de ir em frente.
Na hora emergiu a máxima de Heráclito, do Ser e do Vir a Ser. A constante mudança, nossa e das águas do rio. Não somos os mesmos de ontem, e as águas que agora passam não serão as mesmas que amanhã vão passar.
É inevitável. A máquina complexa do organismo envelhece, e não esconde seu declínio.
Nessas alturas falam-nos de viver com sabedoria. E acho que para isso necessitamos ter consciência de que essa máquina não pode tudo. Os órgãos envelhecem, mesmo que células que morrem dêem lugar a células que nascem, e tudo se renova, como as estações do ano.
Dizem que viver sabiamente é nos resignarmos com a perda da potência que desfrutávamos quando éramos mais jovens. De uma hora para outra diminui a energia e o ritmo.
Saltava aos olhos o esforço daquela criatura ao tentar vencer a força gravitacional. Mas a lei é objetiva, formal e universal. Não se atreva, meu velho, quando "tudo é da lei".
É grave termos esquecido da passagem inexorável do tempo, e as mudanças que ele traz.
Partes de um todo, se envelhecemos, as estações envelhecem. Vamos nos despedir no crepúsculo, antes que a Coruja de Minerva assuma o céu. Estamos a toda hora nos despedindo. mas a cada despedida torcemos para que ela nos guarde o infinito.
O certo, o que nos é permitido fazer, é pedir-lhe para que reserve um lugar para que possamos depositar nossa memória.
quarta-feira, 12 de maio de 2010
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