quinta-feira, 8 de maio de 2025

A velha cidade não sai de dentro de você

 

O ar irresponsável juntou-se à fuligem e estão deixando o mundo em polvorosa.

Moços, velhos e crianças se desmontam em tosse e espirros.

Os olhos vermelhos ardem dia e noite.

A luz da sabedoria ilumina mentes brilhantes e soluções são sugeridas.

O prefeito acha tudo brincadeira de criança – a correria em busca de alívio mais parece um carrossel.

Diz que já viu coisa pior.

No parquinho de diversões, o promotor não consegue notificar os responsáveis;

o vereador pede decretação de situação de emergência;

outro sugere a concretagem do incinerador e a manda às favas as leis da física;

o senhor da esquina quer a pronta instalação de um hospital de campanha;

a defesa civil abre inscrições para os voluntários da pá e a remoção dos resíduos.

A cidade tá bombando.

Aqui perto de casa ar e fuligem se uniram ao abandono de lixo e animais mortos

e agora, pra melhorar, há uma caixa de esgoto estourada

que os narizes têm que suportar.

Campo, lavoura e todos os bairros andam queimam de febre, todos tentando não queimar ninguém.

Fogo e água são ingredientes indispensáveis nesse ensaio de fim de mundo

e um filósofo cínico anda à procura de um herói para devolver a paz à colmeia.

Os poetas distribuem metáforas e oficinas de bolinhas de sabão

visando ao controle do movimento corporal e da respiração.

O clube da terceira idade diz ter dançado no trabalho coletivo e os apostadores contumazes organizam rifas e loterias sobre o tempo

que essa novela levará para chegar ao fim.

Os políticos brincam de lets nos eleitores e seguem ‘empunhando’ todo mundo.

Isso tudo acontecendo e o doctor Biza desolado aguardando a anistia.

Só me falta esse ar irresponsável entrar em movimentos.

 

(De um telefonema do Carleone para o Cadelão)


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  A vizinha é a coisa mais linda! (E deve ser por isso que vai me matar) Tudo igual no fim do mundo. As caturritas gritam planos de investim...