O ar irresponsável juntou-se à fuligem e estão
deixando o mundo em polvorosa.
Moços, velhos e crianças se desmontam em tosse
e espirros.
Os olhos vermelhos ardem dia e noite.
A luz da sabedoria ilumina mentes brilhantes e
soluções são sugeridas.
O prefeito acha tudo brincadeira de criança – a
correria em busca de alívio mais parece um carrossel.
Diz que já viu coisa pior.
No parquinho de diversões, o promotor não
consegue notificar os responsáveis;
o vereador pede decretação de situação de
emergência;
outro sugere a concretagem do incinerador e a
manda às favas as leis da física;
o senhor da esquina quer a pronta instalação de
um hospital de campanha;
a defesa civil abre inscrições para os
voluntários da pá e a remoção dos resíduos.
A cidade tá bombando.
Aqui perto de casa ar e fuligem se uniram ao
abandono de lixo e animais mortos
e agora, pra melhorar, há uma caixa de esgoto
estourada
que os narizes têm que suportar.
Campo, lavoura e todos os bairros andam queimam
de febre, todos tentando não queimar ninguém.
Fogo e água são ingredientes indispensáveis
nesse ensaio de fim de mundo
e um filósofo cínico anda à procura de um herói
para devolver a paz à colmeia.
Os poetas distribuem metáforas e oficinas de
bolinhas de sabão
visando ao controle do movimento corporal e da
respiração.
O clube da terceira idade diz ter dançado no
trabalho coletivo e os apostadores contumazes organizam rifas e loterias sobre
o tempo
que essa novela levará para chegar ao fim.
Os políticos brincam de lets nos eleitores e
seguem ‘empunhando’ todo mundo.
Isso tudo acontecendo e o doctor Biza desolado
aguardando a anistia.
Só me falta esse ar irresponsável entrar em
movimentos.
(De um telefonema do Carleone para o Cadelão)