domingo, 17 de maio de 2020

Cadelão, tu não quer ser um novo Messias?



As coisas andam estranhas, Cadelão. Observe essas crianças nas esquinas e diante de bares e lojas e tantos outros lugares, vendendo doces e outras coisas. Observe também a babel das redes sociais, postagens e comentários incendiários, mas que têm pouco poder de fogo, só chamuscam os "expertos" que frequentam a mesma bolha.
Cadelão, tu tem um medo danado do que essa gente pode aprontar. Estou nessa também. Seria mais tranquilo se tu fosse uma besta que não soubesse história.
Cadelão, os sujeitos medianos são bons em alguma coisa. Não, não são bons analistas políticos, nem bons cientistas ou médicos. Quase não conhecem tratados de ética ou estética ou lógica. O conhecimento que manifestam é como num jogo, uma pelada num campinho de várzea. Observe como jogam. Um festival de chutões pra cima, caneladas, rebotes mal feitos, não sabem se posicionar e acertar dois passes. Mas eles são campeões numa coisa: são campeões em extravasar sua raiva. Ah, Cadelão, tu não acha isso tudo uma perda de tempo?
Mas o perigo pode rondar a área. A barbárie pode querer participar do nosso joguinho, com suas luzes piscantes e cassetetes e tanques e fuzis e câmeras de segurança.
Ouvi ou li em algum lugar, Cadelão, que na raiz mais profunda desses sujeitos certinhos e tementes a Deus e zelosos da família e da pátria pode estar aguardando para despertar um ser primitivo, violento... Sim, Cadelão. Alguém disse (não sei direito se foi Freud) que todos temos o gérmen da violência como uma sementinha em potência aguardando um solo fértil para nascer.
E o Brasil, em sua história, mostra uns traumas e taras. Uma delas é gostar de bater e apanhar de vez em quando. Isso, embarcar numa ditadura, com muita dor e morte.
Se tu souber, Cadelão, me responda: como é que Deus, esteja onde estiver, vai conseguir organizar nosso caos?
Está bem, está bem, vamos considerar a hipótese de que Deus não existe, ou não está nem aí para nossas merdas.
Como vai ser, Cadelão? Tu não quer se candidatar a ser um novo Messias? Hum... De repente posso te assessorar. Mas tu tem que me prometer uma coisa: quando tu estiver meio bêbado, não vá querer incendiar tudo, como fez Nero com Roma. Tá ok?

(B. B. Palermo)


O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...