segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Terapia alternativa - Martha Medeiros






Conheci Zeca Baleiro no final de 2010 e, além de confirmar seu talento musical, descobri que ele escreve bem e que inclusive publicou um ótimo livro, Bala na Agulha, em que reúne crônicas postadas em seu blog, e também versos e frases soltas.


Entre suas reflexões sortidas, encontrei um poeminha que diz: "Terapia/faço em casa/ao pé da pia". Alguns anos atrás escrevi um texto em que defendia essa mesma ideia, a de que lavar louça é uma terapia alternativa das mais eficazes: quando estou com a cabeça encardida de pensamentos inúteis, pego esponja e detergente e começo a lavar todos os copos e pratos empilhados na bancada da cozinha.


É como se eu desaguasse ralo abaixo todas as minhas dúvidas e inquietações.


Dou fim à gordura que se acumula na minha massa cinzenta, as ideias vão ficando mais límpidas e, ao término do serviço, a cabecinha fica pronta pra ser usada de novo, tinindo como um cristal.


Caio Fernando Abreu, a quem ando relendo, também escreveu: “Ninguém enlouquece quando tem um tanque de roupa suja pra lavar”. Ou seja, a vida prática pode nos salvar da loucura.


O fato é que ninguém discorda: a ociosidade é mesmo um passaporte para o universo das caraminholas. A falta de um trabalho e de tarefas a cumprir nos transforma em experts em deduções estapafúrdias e em criadores de problemas inexistentes. Uma pia lotada de louça e um tanque transbordando de roupa suja é a metáfora perfeita para a salvação. Foque no que deve fazer e pare de buscar o sentido da vida.


A loucura tem sempre a ver com excesso, inclusive excesso de tempo livre. É muita angústia, muita cobrança, muita indagação, muita procura de cabelo em ovo.


À medida que usamos nosso tempo para atividades que exigem concentração específica no que se está fazendo, como, por exemplo, um projeto para concorrer ao Nobel de pesquisa científica ou lavar louça, o tempo excedente servirá para descansar e deixar que aflorem apenas os pensamentos mais prioritários. Adeus às elocubrações desnecessárias.


Se mesmo quem possui uma rotina atribulada vive em constante hemorragia mental, imagina quem pode ficar a manhã inteira se espreguiçando na cama, não tem supermercado pra fazer, não precisa ficar atento aos horários dos ônibus e com patrão nenhum exigindo eficiência: acaba mesmo pirando na batatinha. É muita inapetência a serviço do Coisa Ruim.


Portanto, ocupe-se. O trabalho não só dignifica, mas economiza nossos neurônios – não os desperdice matutando, matutando, matutando. Quando estiver pensando muita besteira, amarre um avental na cintura e mantenha sua sanidade.

Zero Hora, 9 de janeiro de 2011

Novo homem!

  Grãos de areia interditaram meus olhos nesta quarta-feira de tarde, bastou umas calcinhas no varal tomarem banho de sol e ousarem ...