domingo, 26 de janeiro de 2025

Sonhe alto

 


 

Apressado, entrei num banheiro químico

junto à praça e aos bares e levei um susto:

quem me encarava, de lá debaixo, era o abismo,

e nele não havia estrelas, nem cadentes nem supernovas,

ou luas cheias, crescentes ou minguantes.

Uma onda impregnou as narinas,

tons azedos de mijo e vômito,

corvos sobrevoando e espiando meu sexo.

O amor, dessa vez, não teve a chance de se manifestar,

ele evaporou junto a tais cenas.

Vi o meu amor atendendo ali naquele pub

e os pensamentos, dessa vez, não foram sublimes,

apesar do início promissor: foi simpática, não me fechou o rosto

e também não me fechou seus olhos negros cheios de vida,

mas fechou seu coração – ele deve estar abarrotado de outros amores.

Os pensamentos, nessas horas decepcionadas, escorregam

pros lados do escatológico, e ter ido àquele banheiro

foi a gota d’água. E as cenas que se apresentam aos olhos

nos bares próximos não ajudam em nada.

Bocas devorando lanches, filés, fritas, a la minuta e olhos fixos

nas telonas de TVs e etecétera e tals.

Conclusão a que cheguei:

isso não traz nenhuma garantia

de que nosso futuro será libertador.

– O futuro – dirão vocês – é tudo o que temos.

Sossega, Palermo, livre-se desses pensamentos banguelas

e sonhe alto!

 

(B. B. Palermo)


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