A prosa daquele senhor impregna o ar.
Ao exalar suas frases, meio que balança a cabeça,
as pernas, dá a impressão de que vai para muitos lugares
ao mesmo tempo.
As opiniões, meio patéticas, despertam-me lembranças
de meus antepassados.
Eram ágeis? Como?
O coração bombeava direitinho sangue por todo o corpo,
ou era fraco?
E os dentes,
e o nervo ciático,
a quantas andava a vitamina D,
e a higiene pessoal,
e as doenças sexualmente transmissíveis?
Quanto % usaram de sua cabeça animal?
Darwin, me ajude:
como cheguei até aqui, em meio a tantos
apetites aleatórios?
Darwin, diga, por favor:
como fui o escolhido, em meio a uma competição
entre milhões de espermatozoides?
Tem dias que olho para trás
e vejo meus ancestrais como uns heróis.
Noutros dias me convenço de que foram uns fodidos.
(Mas que isso não sirva para justificar
esta vidinha miserável, não é mesmo?).
Tem dias que seus corpos despertam
e soltam faíscas das fiações dos postes de minha rua.
Então, furiosos, arrancam pratos e copos de minhas mãos
e os estraçalham no vazio.
Minha estratégia,
como a da maioria de vocês,
é jogá-los no esquecimento –
olvidá-los, ignorá-los –
embarcando no delírio coletivo,
como se tudo o que existe
é este instante.
Este,
apenas
este.
(B. B. Palermo)