quinta-feira, 26 de março de 2020

O desespero do Cadelão



Ela disse
"Tu é uma jóia rara
e um anjo me enviou pra te cuidar".
Suas mensagens no whatsHapp
passeiam numa gramática particular.
"Nada acontece por acaso,
tudo tem uma 'rasão' de ser".
Ando tonto, meio crente no sobrenatural,
meio cético com humanos,
sabendo que vai ter merda no final.
Cadelão, o guloso de aventuras
agora tem pesadelos
e acorda de madrugada suando frio
e morre de medo dos fantasmas
que ela enviou pra me vigiar.
"Escreve um poema pra mim?",
pede, "ingênua", enquanto mapeia
as prováveis rivais
que se exibem em meu perfil no Facebook.
Estou agitado e cheio de medo
de virar peixinho dourado
a ser exibido em nobre horário
nessas vilas gulosas
por trágicas aventuras.
Sua crença
virou-me do avesso,
acho que estou no radar
das forças ocultas.

Senhor, o que eu faço com essas mulheres?
Tende piedade de minha pessoa, senhor!
Vinicius, ó grande poetinha, por favor, me ajude.

Tende piedade, Senhor, de todas as mulheres
Que ninguém mais merece tanto amor e amizade
Que ninguém mais deseja tanto poesia e sinceridade
Que ninguém mais precisa tanto de alegria e serenidade.

Tende infinita piedade delas, Senhor, que são puras
Que são crianças e são trágicas e são belas
Que caminham ao sopro dos ventos e que pecam
E que têm a única emoção da vida nelas.

Tende piedade delas, Senhor, que uma me disse
Ter piedade de si mesma e de sua louca mocidade
E outra, à simples emoção do amor piedoso
Delirava e se desfazia em gozos de amor de carne.

Tende piedade delas, Senhor, que dentro delas
A vida fere mais fundo e mais fecundo
E o sexo está nelas, e o mundo está nelas
E a loucura reside nesse mundo.

O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...