quinta-feira, 2 de abril de 2020

Tudo cairá no esquecimento feito cusparada numa vitrine de loja de grife



Vou driblar o puto do vírus
afogá-lo no álcool
aniquilá-lo através do cansaço,
algumas várias doses
até ele sucumbir
com falta de ar.

O cretino não vai ter chance
nada de tubos de oxigênio
e enfermeiras dedicadas e empáticas,
nas UTIs.
Vou atropelar essa natureza
audaciosa
com meu carrão blindado.

Não há poesia,
não há mistério,
só há tecnologia.
Até os meteoros são fotografados
como se fossem xoxotinhas das ninfetas
em sites pornôs.

Um tempo insuportável,
cretinos matraqueando política
como se soubessem abrir as janelas
para compreender esse mundo
em ebulição.
Papagaios filhos da puta
espalham gotículas do nada
misturando gasoso com líquido
e líquido com gasoso,
deixando a realidade
uma velha conhecida
massa miojo.
E esse nada
não será depurado
nem com oceanos de
álcool-gel.

Ainda bem que isso vai passar.
Tudo cairá no esquecimento,
como cusparada na vitrine
de loja de grife,
antes do amanhecer.

(B. B. Palermo)


Reflexão num boteco, onde uma cachorra preta enorme me observa com olhos tristes

A cadela já envelhecida

pode não reter na memória
as coisas boas ou más que viveu.
Tenho muita coisa represada,
experiências desagradáveis
que espreitam,
mesmo reprimidas.
Creio que a literatura é válvula de escape,
uma saída de emergência pra essa viagem
que é existir.
Uma viagem catastrófica e, também,
tantas vezes maravilhosa,
com surpresas tais que fazem 
com que a vida valha a pena.

(B. B. Palermo)

O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...