Lucy apareceu sem mais e
deu uns tapas nas minhas olheiras
fodidas.
Olhos apavorados
não perceberam o ímpeto
da águia sombria e de unhas afiadas.
Soubera algo, só pode,
alguma fofoca, fato inusitado,
um ciúme,
inveja de alguém que não suporta
ver-me cantando e
gemendo e delirando
caretices
nesses bares chinfrins.
Lucy simplesmente explodiu e
jogou
no caldeirão o poeta mirim.
Cogumelos de cinza
projetaram em outdoors
as filhas da puta das merdas que pensei
ter deixado pra trás.
Depois que Lucy partiu
a angústia, como tia má e
implicante,
me alvejou com 6 tiros
na calçada,
diante da porta de casa.
Purificou minha alma
com cascatas de sangue,
um novo capítulo de
novela antiga.
Dois dias depois Lucy
voltou
montada num centauro
de jardim.
A senil fazia de conta
que porra nenhuma
havia acontecido e
seu beijo quente e demorado
fez as ondas se acalmarem.
Uma trepada doméstica e
a manhã virou algodão doce.
Então Lucy me agarrou e
beijou e chupou e cuspiu e
escancarou as pernas e
me engoliu, e
o poeta,
mendigo de abraços,
gozou como um minotauro
e foi germinar o seu coração.
(B. B. Palermo)