domingo, 14 de março de 2010
A morte do Glauco
Conhecemos, ou dedicamos maior atenção, às pessoas interessantes - neste caso, pela sua contribuição à cultura e ao conhecimento - depois que elas se tornaram notícia, devido a um fato chocante ou inusitado.
Foi o que aconteceu dessa vez, com o assassinato do cartunista Glauco e seu filho.
Quase sempre o cotidiano nos enreda/empareda, absorve nosso tempo e, por isso, muita coisa interessante passa batida.
É muito chocante a perda precoce de alguém, e mais ainda se tem prestado valiosos serviços à cultura.
Todos os dias perdemos (também ganhamos?) algo. Mas algumas perdas são insignificantes, se comparadas a outras.
Mais chocante ainda é quando a morte se manifesta de maneira brutal, "desnecessária", se assim podemos falar.
Se, a toda hora, a consciência de nossa morte nos angustia, diante desses atos brutais a sua presença nos apavora.
O seguinte aforismo de Nietzsche: "O homem é uma corda esticada entre o animal e o super-homem, uma corda sobre o abismo", vai, quem sabe na multiplicidade de interpretações que suscita, servir de pano de fundo para uma reflexão a respeito de nossa condição humana, demasiado humana.
Mas não tem como fugir: toda uma "potência", um para-além-do-homem, no sentido da criação, da luta em busca do novo, se esvai, devido à ação de sujeitos desajustados. Lembro, agora, do assassino do John Lennon. Acreditava ter super-poderes. Pensava que era um Deus, ou Jesus. Coincidência ou não, o assassino de Glauco e seu filho também acreditava nisso.
O que está em jogo é saber onde está a fronteira entre a lucidez e a loucura. Também, poder identificar quem é, de fato, louco, e como vai agir no convivio social.
Nietzsche, na sua genialidade, antevia o que vivenciamos hoje. Ele sabia de fronteiras e abismos.
Tomemos cuidado. Procuremos identificar quais são os loucos bons, e quais são os loucos maus. E não vamos esquecer que os loucos maus se consideram acima do bem e do mal.
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