domingo, 30 de junho de 2024

Ela é uma estrategista

 

A guria me alimenta como se eu fosse desnutrido,

mas se ela soubesse o que passa na minha cabeça

perceberia que não sou verbo nem adjetivo.

Eu sou substantivo!

Alcança a cueca virada,

empurra o chimarrão com chá de erva-doce

e fala entusiasmada das roscas com sabor calabresa

que trouxe do mercado.

Pergunta, feliz:

- Gostou da minha rosca, meu bem?

Embretado, dou de ombros:

- Amei...

Estratégica, quer me distrair do bar e dos “falsos” amigos.

Seus papos e insinuações a respeito da decadência dos valores

que imperam no A. Texas, tenho certeza, são pura retórica.

Por Deus! Ela ainda acredita na minha salvação!

Tive um estalo (fodam-se, não é mania de perseguição!):

desconfio que ela deseja ser mais uma viúva do Texas

e vai tomar para si a minha fortuna...

Elas, as viúvas e não viúvas, têm o clube,

jogos de vôlei,

aulas de dança e teatro,

crochê, tricô, ioga, meditação

e musculação.

Eu tenho o bar e a parceria de alguns desajustados

e o campeonato de futebol pela TV que anda uma bos**

(o time que escolhi pra torcer não ganha de ninguém!).

Sinto um vazio, vocês sabem, uma falta de amanhã,

e não suporto jogos de bocha e canastra no clube.

Lá, os velhinhos se aproximam

como uns sacos vazios

e me escolhem pra ouvir suas histórias,

falando, falando e repetindo

seu glamoroso passado:

muito trabalho,

muita disciplina

e arte

nenhuma.

 

(B. B. Palermo)


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