–
Cara, o que é isso? Menina Veneno?
Tu
ouvindo essas músicas loucas e velhas, tenho certeza,
tens
tudo pra ser ruim de cama!
–
Ah, sim, baby, tenho certeza que as sofrências que tu ouve
te
transformam numa fêmea perfeita
deitada
nas camas que tu encontrar pela vida!
Ela
devolveu, furiosa:
–
Aiaiai... Tu não é nada romântico, hein, Cadelãozinho?
Eu
curto porque curto, curto por curtir!
Acordei
com tais diálogos na cabeça.
3
horas da manhã, abro a porta dos fundos
e
me deparo com os CDs que pendurei em meio às hortaliças,
para
espantar os pássaros.
Eles
emitem luzes meio sobrenaturais, ou eu é que estou sensível
a
ponto de transcender e pegar carona num ônibus espacial
e
farejar brilhos cósmicos e isso é tão bonito e misterioso,
mas
também assustador.
Penso
nas couves e alfaces e medito: fêmeas ou machos?
Qual
será o seu papel na cadeia alimentar e sua importância
para
sermos lembrados como heróis
pelas
gerações futuras?
Agora,
tenho certeza, estou acordado
e
vejo o mundo por metáforas,
e
não ligo muito para cálculos,
tabela
periódica, calculadora e tals,
até
gosto dessas coisas, como se estivesse resolvendo
palavras
cruzadas.
Até
que enfim, livre.
Livre
e na companhia da Menina Veneno,
a
princesa mais talentosa e misteriosa
e
que sempre repete que vale a pena viver.
Ela, sempre ela: minha imaginação e todo o harém venenoso
com que ela me faz enlouquecer!
(B.
B. Palermo)