Era um dia especial, então fui cedo pro bar.
Desejava contar pros bacanas a novidade:
depois de alguma espera, deixaria a pensão
pra morar no meu apê.
Ao chegar, vi que o Marcão e o Zé
acompanhavam a Lau, no violão –
cantavam, daquele seu jeito, o “Faroeste Caboclo”.
Depois de um mês mamando alguns tipos de chás,
Marcão baixou a guarda e voltou pro Natu Nobilis.
Fase bem louca, essa dos chás:
ele parecia uma dama inglesa
tagarelando suas incríveis experiências
longe do álcool, amparado
por umas burguesinhas de 70 anos.
Não me encorajei em acompanhá-los.
Faceiro, Marcão se atirava nos palavrões,
rimava “eiro” com “puteiro” e tals.
Não tinha jeito, Lau afastava o violão
e reclamava:
– Tu tá drogado, menino!
Quando cheguei na pensão,
dona Juju me aguardava
numa perua importada.
De cara, puxou as orelhas deste palerma:
– Tu anda bebendo com o Zé e o Marcão, não é?
Cuidado! Eles entornam pra caramba
e fumam maconha!
A esse respeito, ela tinha toda a razão –
já que trabalhava com adolescentes
infratores.
Minhas mudanças nunca foram grande coisa.
Dessa vez, tinha umas 4 ou 5 caixas com livros
mais alguns badulaques e sacolas com roupas.
Entramos no apê e dona Juju explicou
tintim por tintim como tudo funcionava –
nunca tive forno elétrico, chaleira elétrica,
micro-ondas e etc. e tals.
Me senti em casa quando ela abriu
uma gaveta do armário da cozinha
e explicou como guardava os talheres,
para escapar da presença de certas criaturas.
Maravilha – pensei.
Em todos os lugares em que morei
sempre tive a grata companhia das baratas!
Para brindar o negócio do apê e da nossa amizade,
no dia seguinte fizemos um churrasco.
Convidei alguns andarilhos, parceiros do bar.
Todos apareceram – e foi um senhor
porre!
No outro dia, eu mesmo subscrevia
um abaixo-assinado contra a minha
presença
no ambiente!
(B. B. Palermo)