Cheguei na estação rodoviária de
Capão da Canoa e corri até os banheiros.
Uma senhora limpava as privadas,
cantarolando uma música.
À medida que urinava, aquela canção
me parecia familiar.
Ao me dirigir a uma das torneiras das
pias, tive a certeza.
Falei pra ela:
– Escuta só, aposto que tu estava
cantando uma do Amado Batista!
Ela sorriu.
– É linda, né?!
Sou tomado por uma nostalgia.
Vivi os bons tempos do Degrau’s, a
boate da Janete,
uma cafetina generosa, quase mamãe.
Lembro que ela e suas gurias me
chamavam de Amado Batista.
Creio que era um pouco parecido com o
cantor – popular e milionário, diga-se.
Janete me chamava também de American Airlines,
e nunca soube se tinha relação com a companhia aérea e com aviões a jato.
Se fosse, não fazia o menor sentido, eu
pouco saía do chão, meus voos
quase não se descolavam do solo –
como se fosse um galo velho que ainda sonha voar, quase sempre depois de beber
algumas.
Na boemia noturna, recepcionado como
o Cara,
eu me fazia e despia o ego de intelectual
e – mais do que isso – cantava as do Amado, e cantava bem, juro!
(B. B. Palermo)