Nenhum drama existencial ou moral.
Nessa madrugada você encarou
algumas garrafas e alguns poemas duvidosos
que você jura que são bons.
Você não copiou,
não imitou,
teve coragem e sentou no vaso
e dê-lhe descarga na originalidade.
Sabe que não vai encontrar
estilo nem classe
nesses poetas engomados,
muitos empilhando prêmios literários
e performando em dezenas de palestras
nas universidades,
onde poucos ouvem, poucos se divertem.
Fique down,
não negocie com Dona Morte,
não dê chances ao suicídio.
Você nunca será homenageado
com uma estátua
ou como nome de rua.
Pra dar vida à sua arte,
faça como eu:
me encanto ao contemplar, de longe,
jovens garotas policiais
com suas algemas,
pistolas,
cassetetes e lábios
levemente
lambuzados
por batons discretos.
A intuição me diz
que suas fardas
bem passadas
aprisionam feras
que desejam muito mais
do que manter a ordem nas ruas
– e gritam, sem dó, “pra parede!”
pra uns pobres de periferia.
Sei outras coisas cabeludas,
sei muito do que rola e que não imaginais
– seus ingênuos malditos –
e por isso as persigo camuflado
pelos troncos das árvores
ou por sombras diabólicas
depois da meia noite.
Quando não estou desvairado
não arrisco nenhum verso imortal.
Eu me recolho cedo,
faço minha oração
e me calo.
(B. B. Palermo)