sexta-feira, 6 de junho de 2025

Versos imortais


 

Nenhum drama existencial ou moral.

Nessa madrugada você encarou

algumas garrafas e alguns poemas duvidosos

que você jura que são bons.

Você não copiou,

não imitou,

teve coragem e sentou no vaso

e dê-lhe descarga na originalidade.

Sabe que não vai encontrar

estilo nem classe

nesses poetas engomados,

muitos empilhando prêmios literários

e performando em dezenas de palestras

nas universidades,

onde poucos ouvem, poucos se divertem.

Fique down,

não negocie com Dona Morte,

não dê chances ao suicídio.

Você nunca será homenageado

com uma estátua

ou como nome de rua.

Pra dar vida à sua arte,

faça como eu:

me encanto ao contemplar, de longe,

jovens garotas policiais

com suas algemas,

pistolas,

cassetetes e lábios

levemente

lambuzados

por batons discretos.

A intuição me diz

que suas fardas

bem passadas

aprisionam feras

que desejam muito mais

do que manter a ordem nas ruas

– e gritam, sem dó, “pra parede!”

pra uns pobres de periferia.

Sei outras coisas cabeludas,

sei muito do que rola e que não imaginais

– seus ingênuos malditos –

e por isso as persigo camuflado

pelos troncos das árvores

ou por sombras diabólicas

depois da meia noite.

Quando não estou desvairado

não arrisco nenhum verso imortal.

Eu me recolho cedo,

faço minha oração

e me calo.

 

(B. B. Palermo)


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