terça-feira, 13 de maio de 2025

É Sério, Baby


Eu trago comigo algum consolo, baby,
de ter dançado entre vinis riscados
enquanto o mundo ardia nas entrelinhas

dos jornais.
Me ensinaram paz e amor,
mas nunca me disseram onde doía.

Cresci no colo de Rita, Raul e Belchior –
mestres de uma juventude que não lia

editoriais,
mas entendia o grito engasgado
nas guitarras e nas entrelinhas das canções.
O noticiário? Era só barulho branco
e eu, sem saber, me tornei cúmplice

do silêncio.

A música me salvava, baby,
como salva um náufrago em terra firme,
e eu compreendia a Rainha do Rock
como quem entende uma profecia

em forma de refrão.

Depois vieram os livros e os amores de estação,
as revoltas com hora marcada,
as tardes de domingo cheias de utopia.
E, por um tempo, acreditei:
talvez o mundo ainda coubesse no peito.

Mas escuta esta – olha nos meus olhos:
também fui chamado de ovelha negra da família,
com um certo orgulho, confesso,
como quem carrega no bolso um verso proibido
e sorri porque sabe que ainda arde.

 

(B. B. Palermo)


Nenhum comentário:

Postar um comentário

O amor não precisa ser um cão dos diabos

  Ele tava lá, de novo, com cara de fim de feira e alma de segunda-feira chuvosa. Sentado num restaurante de beira de estrada, encostad...