sábado, 22 de junho de 2019

Onde está a cabeça dos caras




Um maluco foi empinar sua motocicleta importada de mil cilindradas na avenida, a uns trinta metros do bar onde eu conversava com dois amigos. Perdeu o controle, já era noite, a moto rodopiou e voou em frente, acompanhada de faíscas por causa do atrito com o asfalto, e o sujeito rolou uma dúzia de metros e se chocou num carro que vinha no sentido contrário. O voo da motocicleta seguiu na contramão, chocando-se no pneu traseiro de um carro estacionado e foi pro outro lado da rua, uns cinquenta metros adiante.
- Caralho, e se o foguete vem em nossa direção?
- Já era, baby.
Um sujeito que estava numa mesa ao lado correu pra organizar o trânsito. Depois foi ajudar o cara da moto. Por incrível que pareça, o retardado estava consciente e sem qualquer osso quebrado.
- O filho da puta nasceu de novo.
- Já pensou se a máquina alcança as crianças que circulavam de bicicleta pela calçada?
Enchi o copo e observei a bolha se formar no bico da garrafa. Rechacei um pensamento que ganhava forma, "que pena não estar morto nessa hora". Agora que estou vivo, sinto o paladar a cada gole. Um dos meus amigos achou que era momento de dizer "viva bem cada minuto, como se fosse a frase ideal para iniciar um romance".
Com seus smartphones em punho, pessoas tiram fotos, gravam vídeos, antes que a motocicleta seja recolhida e o maluco conduzido ao hospital e antes que cheguem os caras da Brigada.
Como um balão que estoura sem ter alcançado o seu máximo, broxo ao ver toda essa cambada manuseando seus aparelhos. Precisam se ocupar, e eu necessito inventar algo para distraí-las desse hábito ridículo.
- Se a cabeça dos caras não está no aparelho, está no pau - disse outro de meus amigos.
O cretino dedicou muito suor pra cavalgar numa máquina de dar inveja a amigos e conhecidos. Mas pra se exibir na avenida não pode exagerar na bebida nem no pó. De que serve tudo isso?
Penso que ele deveria ser minha plateia, e não o contrário. Mas não levo jeito pra coisa. Não consigo escrever textinhos curtinhos e engraçadinhos pra chamar a atenção desses semiretardados.

(B. B. Palermo) 

O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...