terça-feira, 25 de junho de 2019

Carta para Nadja



Preciso de sossego. Para com essas mensagens no WhatsApp, sei que você está trepando com um plantador de soja, dos graúdos, nem vem, vi tua postagem no Facebook.
Dá um tempo, meu pau sangra e toneladas de pó repousam debaixo da cama, e isso não é pesadelo.
As amizades naquele teu bar são barra pesada, veja bem, sou escritor de meia dúzia de leitores guerreiros e persistentes, um sonhador que bebe vinho de dez reais a garrafa, mas que sabe que vai chegar lá, e tua tara por carne está roubando minha energia.
Foder é bom, eu adoro, mas o tempo está voando e eu tenho uma tonelada de ideias para teclar.
Foder é bom, mas eu sinto que o tesão de cadela no cio está sugando a minha arte.
Nadja, você acredita que me dá bem demais. São orifícios de todo lado e gemidos e gritos que inflam meu ego, mas você nunca vai me dar Nietzsche e Hemingway e Bukowski e John Fante.
Daí que me apaixono quando troco mensagens com jovens universitárias que se especializaram em literatura pós-moderna, onde o sujeito ou a história ou o personagem morreu, ou o filho da puta se metamorfoseou, ou se dividiu e reproduziu em múltiplos EUS... enfim... que se foda.
Meu bem, elas leem o que escrevo e comentam no privado e inclusive criam perfis falsos pra seguir a literatura de um louco dançando no inferno ou sugando o leite das tetas das hienas, elas querem bisbilhotar e devem ter breves orgasmos ao pensarem de onde vem a seiva que Cadelão ejacula no papel.
Está bem, está bem, admito, essas garotinhas torram meu saco, mas você poderia ser mais refinada. O apetite insano, o vocabulário grotesco, os palavrões, a boca que às vezes exala um hálito que lembra velório e vela queimada, então saiba por que evito teu beijo.
Pra não ficar louco, preciso escrever, senão saio pra rua e escalo postes e conserto a iluminação pública e devolvo a luz a essa cidade neurótica.
Preciso algo mais do que sexo. O excesso deixa tudo vulgar e previsível, como uma imensa freeway esperando o entra e sai na calmaria do amanhecer.
Nadja, tudo bem você sugar o litrão de cerveja no bico e se empanturrar de x-burguer e música de sofrência, mas escute, você fala demais, qualquer assunto é como se fosse o fim do mundo, é tanta opinião sem propósito que, ao ouvir essas merdas, dá vontade de ser um torturador de ratos.
O mundo está sem alma e você não dá sinais de que vá acordar, os patins estão empoeirados e você só pensa em unhas e sobrancelhas, enquanto guerras ameaçam estourar.
Compreenda, cansei de você  pagar motel e lotar três vezes o frigobar com cerveja e ice e chocolate. Cansei de assumir o papel de garanhão, cansei de te ver tirando dezenas de fotos nas festas pra se exibir e competir com outras piranhas.
Podes dizer que é neurose, mas na minha cabeça uma história de amor precisa acabar pra outra começar. Sei que não tem lógica, sei que vou sofrer, porém preciso limpar o roupeiro, botar cobertores e travesseiros no sol.
Está bem, está bem, eu volto a abrir a porta, mas vê lá, não quero ser alvejado por uma dúzia de tiros de um plantador de soja ciumento.
A vida se renova, meu bem, eu sou escravo da criação, o que foi já era, morreu, preciso cavalgar outros rabos. Aqui lembro do Bukowski, que diz "não estou morto, preciso ver as xotas. Cada flor é uma nova flor. As outras estão mortas".

(B. B. Palermo)

O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...