Foi então que me vi cuidando de cada folha,
como quem vigia um filho dormindo.
Espio o céu, imploro por chuva, negocio com pombos
Plantei alfaces, pimentas, melancias,
como se meu quintal fosse uma fazenda.
Reparo no vento, na luz, no silêncio.
Pesquiso curas milagrosas do abacaxi, a anatomia do morango.
Meu pé de limoeiro me testa: cresce ou me abandona?
Não sei quando isso começou.
Antes, só aparava o mato para acalmar os vizinhos.
Agora, sofro pelo bife como se fosse uma pobre vaca ou boi.
Talvez seja ressaca da pressa moderna,
da vida digital que tritura os sentidos.
A horta é meu fôlego, é meu éden.
Quero ver, ouvir, cheirar.
Quero renascer com as frutas, verduras e legumes.
Um amigo diz que vivo cultivando abobrinhas.
Seja metáfora, seja gozação, eu não brigo
e não ligo.
Quem nasceu na roça leva terra debaixo das unhas
até o fim.
Se enlouqueci, me avisem.
Estarei fuçando
no quintal.
(B. B. Palermo)