sexta-feira, 24 de outubro de 2025

Viagem ao fim da noite

 

O cachorro passa mancando...
não me percebe.
Compreendo a lição:
a vida é busca, é movimento.
Quem prova isso é o motoboy
e sua descarga barulhenta,
nas dezenas de vezes que passou hoje pela rua,
como uma retroescavadeira levantando voo.
O tonto não sabe - ou não quer saber -
da tal “poluição sonora”,
nem de que é responsável
pelas consequências de seus atos.
Alguém aí se importa?
Vou à praia ao entardecer.
A natureza me chama.
Eis que me deparo com um trator
puxando va-ga-ro-sa-men-te uma rede.
E sei lá...
fiquei triste, como a personagem da Clarice Lispector
em A Paixão segundo GH,
que devorou uma barata.
Uma tristeza que ninguém sabe explicar.
Assim que a rede saiu do mar,
fui encarado por um peixe-espada,
e seus olhos me fuzilaram:
- Eu não desejava morrer!
Vieram lembranças de andanças e fiascos
nas noites boêmias,
num tempo em que meus olhos estavam
em melhor estado de conservação
do que o pobre peixe agonizando na areia.
Mais cedo ou mais tarde (e que isso sirva de consolo)
seremos todos arrastados - alegres ou tristes -
pela mesma rede que chamam
de viagem ao fim da noite.
(Pensamentos & poemas espirituosos)

Viagem ao fim da noite

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