sexta-feira, 20 de junho de 2025

A vizinha é a coisa mais linda!

 

A vizinha é a coisa mais linda!
(E deve ser por isso que vai me matar)

Tudo igual no fim do mundo.
As caturritas gritam planos de investimento
e estratégias pra instalar uma piscina até dezembro.
Nas ruas, adolescentes rebolam em shorts que desafiam a gravidade
e a paciência dos casados.
Fim e recomeço da civilização em câmera lenta.
Quero sexo, caos e talvez uma internação involuntária.
Tô com saudade de arte,
mas aí lembro dos artistas que conheci e fico tranquilo.
Bebo feito um condenado em liberdade,
dou umas risadas sem motivo - é o cérebro fritando em tempo real.
Os homens falam de negócios como se estivessem salvando o planeta:
“Comprei barato, vendi com 300% de lucro.”
Uns gênios da multiplicação do tédio.
Eu só penso em sexo
e nas sementes que nunca brotaram,
nem as naturais, nem as metafóricas.
Fico de pau duro e sem metáfora.
Talvez seja a cerveja, talvez seja carência,
talvez seja burrice genética.
As palavras certas me abandonaram
igual à minha ex.
Enquanto isso, a vizinhança fala de fusões empresariais
e divórcios amigáveis - duas formas diferentes
de perder tudo o que tem.
Nem sempre tem morte, mas sempre tem drama barato.
Hoje, por exemplo, mais uma discussão com a Lucy:
gritos, copos voando e eu ganhando no grito
porque perdi no argumento.
Daí vem a vizinha - a linda, a profética -
e me deseja “saúde” com aquele olhar de quem viu coisa errada.
Contou que sonhou comigo morto. Enforcado.
Fez o gesto. Botou drama. Eu, claro, fiquei excitado.
Fui caminhar tentando entender o que Freud chamaria de "recado do além".
Talvez ela goste de mim.
Talvez queira me matar.
Ou talvez seja só uma mulher normal
que teve o azar de morar ao lado do Palermo.
Mas vejam só:
eu e ela dividimos algo raro,
o impulso misterioso de fornicar ou assassinar.
Talvez as duas coisas.
E, sinceramente, qualquer uma seria mais interessante
que uma reunião de condomínio.

Meia-noite.
Cerveja quente e a geladeira ronronando
feito um transformer cansado.
Máquina filha da puta - não pensa, não sente, e ainda assim
geme mais que eu no sexo.
Olho pra ela e penso:
Pelo menos essa não sonha com minha morte!
Valha-me, Jesus, Freud e Bukowski.
Eu só queria entender a cabeça da vizinha,
ou ao menos sua bunda.
Palermo, tu podia ser alguém na vida.
Mas aí descobriu o bar da esquina e uns shorts justos demais
passando pela calçada com cheiro de suor e fim de tarde.
Aí pronto.
Foi tudo adiado.
Ou melhor:
arquivado sem previsão de retorno.

(B. B. Palermo)

A vizinha é a coisa mais linda!

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