sexta-feira, 28 de abril de 2017

Amor imortal morre de tarde - José Cândido de Carvalho


De tarde, ao dobrar uma esquina, aquele encontrão.
Mercedes Pires nem reparou nele, que foi sua grande paixão. Aniceto de castro, o Castrão das Rendas aduaneiras, também em Mercedes não reparou. Esteve na curva 122, a pique de meter bala no casco pela beleza em flor de Mercedes. E Mercedes, pelo bem querer de Castro, quase abriu os pulsos com uma faca de cortar mortadela.
Do talho aos jornais era pulo de periquito. e até imaginou o berro das manchetes: "Linda moça de Cordovil morre por um amor impossível. "
Mas entre o tiro que não houve e a faca que não cortou, a folhinha da parede desfolhou 40 anos bem passados. E de repente, na dobra de uma esquina, aquele esbarrão. Castro nem reparou em Mercedes. Falou para Dentro, para o ouvido de seu suspensório:
- Uma ilha dessa tonelagem devia andar no meio da rua, com placa de caminhão nas costas. É pário para ônibus e não para gente de calça e botina.
Mercedes também não reparou em Castro. Falou sozinha:
- Cada tipo esquisito! Parece, de tão gordo, que está esperando criança. Se tivesse espelho em casa, devia reparar que aquela sua cara de engomador elétrico não pode usar óculos nem costeletas. É cara para tomada de parede.
E assim um passou pelo outro. Perdidos na distância de 40 anos.

Novo homem!

  Grãos de areia interditaram meus olhos nesta quarta-feira de tarde, bastou umas calcinhas no varal tomarem banho de sol e ousarem ...