sábado, 15 de janeiro de 2011

O ciclo de Pedro Malazarte



De como Malazarte fingiu que se matava


Vendo que a vitima vinha em sua perseguição, deu tudo quanto tinha e, ao aproximar-se de um riacho, encontrou uma mulher a lavar roupa. Estava perdido, porque a lavadeira daria ao perseguidor a sua direção.


Mais que depressa tocou a carneirada a atravessar o riacho, e tomando um dos carneiros, tirou-lhe as tripas e meteu-as debaixo da camisa. Quando a manada passou, ele arrancou da faca, fingiu que abriu o ventre e deixou cair na água as tripas do carneiro, que ali levou ocultas.


A lavadeira deu um grito, caiu desmaiada ao presenciar tal cena e Malazarte desapareceu.


Quando o perseguidor chegou à toda, e perguntou à lavadeira se tinha visto passar um homem tocando uma carneirada, ela respondeu, quase sem poder falar, que Pedro Malazarte havia feito o que ficou dito.


E, porque Pedro já estava longe com o rebanho, o homem voltou soltando um milhão de pragas.


De como Malazarte passa adiante a carneirada


Já muito longe, encontrou um porqueiro que vinha tocando também. Pedro Malazarte que já previa que o fazendeiro havia de vir no seu rasto, propôs troca dos carneiros, (que valiam menos, pelos porcos, que valiam mais).


Fecharam o negócio, tendo o porqueiro feito uma volta em dinheiro.


Malazarte seguiu com a porcada e o outro com os carneiros, em direção oposta.


O porqueiro foi pousar em casa do dono dos carneiros. Ao ver o seu rebanho, o homem avançou para o porqueiro, e exigiu entrega do que era seu. O porqueiro quis resistir, mas vendo que o homem estava armado até os dentes e tinha muitos capangas, não teve outro remédio senão fazer a restituição, ficando no prejuízo, e tocou pra trás a ver se encontrava o Malazarte que já estava longe, tendo tomado por um atalho que foi dar numa fazenda. E, vai então, vendeu a porcada por um precinho barato, mas com a condição de o comprador deixar que ele cortasse a ponta do rabo de cada porco.


Fecharam o negócio e Pedro Malazarte meteu no embornal os rabinhos dos porcos e bateu o pé na estrada.


De como Malazarte rouba as jóias de uma família.


E foi dar no castelo de um ricaço que era casado e tinha uma filha, e ofereceu-se para empregado. E foi aceito. Como era tempo de chuva, o chiqueiro estava que era mesmo um lameiro. E Malazarte teve logo uma idéia. De noite tocou para longe a porcada do ricaço e, voltando, espetou no lameiro as caudas dos porcos. E, quando de manhã o dono da casa veio ver a porcada, Malazarte lhe apontou o lameiro e disse-lhe que os porcos estavam atolados, apenas com os rabos de fora.


O dono da casa mandou-o logo que fosse em casa buscar duas enxadas a ver se podiam desenterrar os animais. Pedro Malazarte foi numa corrida e, lá chegando, viu a dona e a filha passeando no jardim e lhes disse:


- O patrão mandou que as senhoras me acompanhem. Elas duvidaram, mas Malazarte gritou, perguntando ao patrão que estava lá embaixo:


- As duas, patrão?


- Sim, as duas, e sem demora! As duas, pateta!


E, então, as senhoras não puseram mais diferença e acompanharam Pedro que tomou com elas outra direção. Já longe o velhaco amarrou-as numa árvore, tirou-lhes todas as jóias que eram de grande preço, fugiu e foi tocar a porcada que tinha ocultado no dito retiro.


E, quando o ricaço, cansado de esperar, foi a casa e não encontrou a mulher e a filha, bateu a procurá-las até que as achou amarradas onde Malasartes as havia deixado.


Quando voltou é que viu que dos porcos só havia os rabinhos, que ele é que era um pateta de marca.


A muitas léguas dali, o Malazarte negociou a porcada, recebeu o cobre, comprou um bom terno de roupa e foi parar em certa cidade, onde, logo na entrada, havia uma bonita chácara que era do dr. Juiz de Direito.


De como Malazarte faz mais uma que parecia duas


Eram já por umas dez da noite. O Malazarte bateu à porta e pediu pousada, dando o nome de doutor Fulano, que vinha visitar aquela terra. O Juiz costumava entrar tarde, pois ficava até à meia-noite fora de casa, jogando marimbo com um seu compadre. E vai então o filho do Juiz na sua simplicidade, mandou entrar o hóspede e, depois de um bom chá, deu-lhe pousada, no quarto da sala, onde o Juiz costumava se vestir. E quando o Juiz chegou, o filho lhe contou o que se tinha passado e o tolo ficou muito satisfeito daquela hospedagem.


E vai então lá pela madrugada o Malazarte começou a sentir umas coisas na barriga…Procurou o vaso e, não o encontrando, abriu a janela… mas lá fora havia uma cachorrada, que foi um barulho de latidos que nunca se viu.


O Malazarte estava suando frio. Mas nisto avistou na prateleira uma caixa. Abriu, havia dentro uma cartola de pelo. Estava salvo! Tirou a cartola, fez nela o que quis, pôs outra vez na caixa e esta no lugar onde antes estava.


De manhã, quando ouviu tropel dos criados saiu e… este mundo é meu!…


Quando vieram chamar o Malazarte para o café, não o acharam mais.


À hora do almoço, o Juiz saiu do quarto e foi para o cômodo em que se costumava vestir.


Era dia de júri. Vestiu a sobrecasaca, e, distraído, tirou a cartola que enterrou, de um golpe, na cabeça.


Para que tal fizeste! Ficou com a cara enlameada e sentiu um cheiro que quase o afogou. Começou então a gritar. A família veio toda, pensando que tinha acontecido alguma desgraça.


Ao vê-lo naquele estado, correram todos a buscar socorro. O filho trouxe-lhe um banho, a filha água florida, a mulher sabonete de cheiro.


E depois houve risada que não foi brinquedo, enquanto o Juiz bufava de raiva. E os jurados já estavam cansados de esperar por ele…


Mas o Malazarte já estava longe. Até parecia que tinha parte com Belzebum.

Do livro Os grandes contos populares do mundo. Organizado por Flavio Moreira da Costa.

CHAPÉU






Era o "Chapéu".
Sem hora
boêmio
e estresse.

Novo homem!

  Grãos de areia interditaram meus olhos nesta quarta-feira de tarde, bastou umas calcinhas no varal tomarem banho de sol e ousarem ...