No
ano em que Elis veio de Curitiba me visitar, eu tinha um fusca azul com umas
rodas e um volante e um som que eram a minha cara.
Naqueles
dias, enquanto eu cheirava a cachaça, o fuscão cheirava a gasolina.
O
pobre do mecânico do bairro tirava o tanque, lavava o tanque, virava o tanque
do avesso e nada de encontrar o vazamento.
Assim
que chegou, Elis analisou o ambiente do meu lar e disse que umas cortinas nas
janelas da sala cairiam bem.
Percebi
que ela tinha planos para mim. Isso me deixou em pânico.
Tudo
veio abaixo quando ela remexeu o guarda-roupa e encontrou uma calcinha vermelha.
Pegou,
de uma gaveta, uma tesoura enferrujada e fez picadinho.
Não
consegui esconder certa satisfação com a sua raiva.
Ela retalhava e gritava:
Cadela! Piranha! Vadia!
Aos
seus olhos, CADELÃO era um garoto ingênuo e, por isso, um indefeso aos ataques
das vagabundas.
Eu
gostava daquele ciúme e me achava.
Falei
da loira, suas coxas musculosas, novinha e estudante de psicologia, de lábios
carnudos e que mordia minha boca sempre que gozava.
Elis
ouvia com atenção e com olheiras e queria saber mais detalhes.
Daí
a pouco emputeceu e sumiu o dia inteiro.
Voltou
à tardinha e me presenteou com um pijama de seda, trouxe também cortinas pras janelas e umas
compras do mercado.
Não
quis jantar fora, cozinhou nosso prato preferido: molho de galinha e massa, com
muito queijo e alho e pimenta.
Depois
de duas taças de vinho, Elis, mais serena, quis saber detalhes de como a
piranha loira e musculosa e cadela e novinha transava.
Mais
tarde ela disse que ia tomar banho e depois me ensinaria umas coisas.
Fiquei
meio nervoso, não queria ser um Cadelão traidor, pensar na loirinha musculosa
enquanto Elis cavalgasse.
Rapidinho,
suguei três doses de uísque do Paraguai.
Ao
sair do banho, Elis não quis saber de conversa e partiu pra aula prática.
Aprofundou-se
nos detalhes, repetimos, repetimos a lição.
Foi a primeira vez que dei uma trepada com
alguém rebolando a bunda daquele jeito.
Parecia
rainha de escola de samba num ensaio pro carnaval.
Elis
era uma especialista. Elis sabia ensinar.
Hoje,
contando pra vocês, eu morro de vergonha.
Eu
não sabia trepar.
(B.
B. Palermo)