segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Tá difícil pro escritor competir com a realidade



Onze da noite, estava assistindo no Youtube uns vídeos estranhos. Um sujeito fala de como é o pós-morte de alguém que comete suicídio. O incrível descreve casos de suicídio como se estivesse falando da previsão do tempo. E diz também como os suicidas serão recebidos quando chegarem no outro lado. Estava boquiaberto assistindo essa coisarada quando recebo mensagens pelo Messenger.
- Oi Palermo você é casado quantos anos você tem.
Logo depois recebo um áudio.
- Manda uma foto tua grande pra mim te vê.
Aí manda uma ligação. Não atendo, claro. Escrevo-lhe uma mensagem.
- Oi. Tudo bem? Te conheço?
- Tu não me conhece nem eu te conheço mas eu queria ver a tua foto.
Escrevo-lhe o seguinte:
- Tô na meia idade e tenho fugido de algumas mulheres.
Recebo outro áudio.
- Eu tô casada mas na verdade eu quero me separar, porque meu marido é um idiota. Daí eu quero ver se arrumo outra pessoa pra mim.
Outro áudio, onde diz a sua idade, e insiste pra que envie uma foto, das grandes.
Silenciei. Continuou insistindo. Pouco depois recebo uma foto dela sentada no colo do marido, e com um gato no seu colo.
Recebo outra mensagem.
- Eu quero um relacionamento sério e você também.
Como não respondi, ela pergunta:
- Não gostou de mim?
Ganhei tempo. Dei uma espiada nas suas postagens e perfil no Facebook.
Ela fez outra e mais outra ligação.
Escrevi para ela:
- Calma, tô no bar com amigos. Conversamos amanhã.
Outro áudio, onde ela sussurra:
- Me-man-da-tua-fo-to...

Santo Cristo! O que que eu faço?
Depois de ler algumas das suas postagens no Face, enviei-lhe esta mensagem:
- Não te conheço. Não quero me envolver com mulher casada. Não quero levar uns tiros.

Uma das postagens dela me chocou, mais do que o vídeo que assistia no Youtube. Não, tudo tranquilo com as fotos em que ela está ao lado do marido e etecétera e tal. O que me espantou foi uma foto onde aparecem algumas crianças, tirada há uns quinze anos, e que ela compartilhou. Uma das crianças era (é) sua filha, e que foi adotada quando tinha uns seis anos. A mãe biológica não tem a mínima ideia de onde está sua garota e quem são os pais adotivos. Hoje ela deseja muito rever sua menina que, aliás, é uma garota de vinte e poucos anos.

Tempos difíceis para quem pretende ser escritor e viver de ficção.
A realidade, muitas vezes, dá de dez a zero.

(B. B. Palermo)

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