Onze da noite,
estava assistindo no Youtube uns vídeos estranhos. Um sujeito fala de como é o
pós-morte de alguém que comete suicídio. O incrível descreve casos de suicídio
como se estivesse falando da previsão do tempo. E diz também como os suicidas
serão recebidos quando chegarem no outro lado. Estava boquiaberto assistindo
essa coisarada quando recebo mensagens pelo Messenger.
- Oi Palermo
você é casado quantos anos você tem.
Logo depois
recebo um áudio.
- Manda uma foto
tua grande pra mim te vê.
Aí manda uma
ligação. Não atendo, claro. Escrevo-lhe uma mensagem.
- Oi. Tudo bem?
Te conheço?
- Tu não me
conhece nem eu te conheço mas eu queria ver a tua foto.
Escrevo-lhe o
seguinte:
- Tô na meia
idade e tenho fugido de algumas mulheres.
Recebo outro
áudio.
- Eu tô casada
mas na verdade eu quero me separar, porque meu marido é um idiota. Daí eu quero
ver se arrumo outra pessoa pra mim.
Outro áudio,
onde diz a sua idade, e insiste pra que envie uma foto, das grandes.
Silenciei. Continuou
insistindo. Pouco depois recebo uma foto dela sentada no colo do marido, e com
um gato no seu colo.
Recebo outra
mensagem.
- Eu quero um
relacionamento sério e você também.
Como não
respondi, ela pergunta:
- Não gostou de
mim?
Ganhei tempo.
Dei uma espiada nas suas postagens e perfil no Facebook.
Ela fez outra e
mais outra ligação.
Escrevi para
ela:
- Calma, tô no
bar com amigos. Conversamos amanhã.
Outro áudio,
onde ela sussurra:
- Me-man-da-tua-fo-to...
Santo Cristo! O
que que eu faço?
Depois de ler
algumas das suas postagens no Face, enviei-lhe esta mensagem:
- Não te
conheço. Não quero me envolver com mulher casada. Não quero levar uns tiros.
Uma das
postagens dela me chocou, mais do que o vídeo que assistia no Youtube. Não,
tudo tranquilo com as fotos em que ela está ao lado do marido e etecétera e tal.
O que me espantou foi uma foto onde aparecem algumas crianças, tirada há uns
quinze anos, e que ela compartilhou. Uma das crianças era (é) sua filha, e que
foi adotada quando tinha uns seis anos. A mãe biológica não tem a mínima ideia
de onde está sua garota e quem são os pais adotivos. Hoje ela deseja muito
rever sua menina que, aliás, é uma garota de vinte e poucos anos.
Tempos difíceis
para quem pretende ser escritor e viver de ficção.
A realidade,
muitas vezes, dá de dez a zero.
(B. B. Palermo)
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