Estou no bar,
sentado junto a uma mesa na calçada, e ela está do outro lado da rua, sentada
em seu banco de concreto, diante de sua pequena casa toda organizada e de pintura
nova. Está acompanhada do seu marido e um amigo do marido e sua cuia de
chimarrão e garrafa térmica e seu cabelo brilhoso e seus brincos e aquela cara
de tédio, observando-me fazer a sucção de alguns litros de cerveja e ser consumido pelo
álcool. Ela não vê outra alternativa senão ciscar com os dedos no teclado
do aparelho e passear pela web, enquanto seu marido conversa com o amigo sobre
o aumento do dólar. Ela faz salgadinhos sob encomenda para festas de
aniversários e outros eventos. Tem uma página no Facebook com diversas
curtidas. Ela está sempre alegre e receptiva e falante, e eu ouvi muitos
elogios a respeito da delícia que são suas coxinhas. Quando os clientes
chegam, ela fala e fala sobre diversos assuntos, mas mantém segredo a respeito
dos temperos orgânicos e caseiros, que fazem com que seus petiscos tenham
personalidade própria. Penso fazer terapia. É que eu tenho vergonha quando bebo
e ela me observa do outro lado da rua.
(B. B. Palermo)
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