quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Beber mijar paquerar




Garota, tudo bem você falar do pó e da sujeira na casa da fulana, das manias dos patrões e das conversas ríspidas entre familiares nos lugares onde você trabalha.
Em algum momento você precisa transcender. Pouco importa se você é diarista ou advogada ou empresária.
Você precisa subir, subir, e embarcar no sonho de Ícaro, nem que seja com um baseado dos bons.
Você precisa se inquietar e sacar que a vida não é só trabalho, fofoca, ruminar a todo instante os sete pecados capitais - que só os outros cometem, claro.
E, por favor, mantenha distância da TV e das novelas.
Sempre digo pro Beiço que a melhor hora pra mijar ao ar livre nos fundos de casa sem ser notado pelos vizinhos é quando passa a novela na TV.
Caralho, é batata, o povo simplesmente fica hipnotizado diante do aparelho. Eu podia andar pelado pela rua, eu podia plantar bananeira diante do salão da cabeleireira gostosa. Eu podia...
Não serei flagrado se estiver no ar o capítulo da novela. Cabeças imóveis, olhos vidrados e espantados pela performance da vilã. Nossa, as velhinhas quase desmaiam e as novinhas roem as unhas.
Cabeças paralisadas, como se fossem esculturas, mortas como muros ou grades. Início da novela, fim da novela. Porra, odeio essa magia rasteira, de telespectadores encantados. Danem-se se isso funciona muito bem. Foda-se a linearidade. Não estou nem aí se a fórmula é repetida porque sempre dá certo.
Em vez da TV, à noite eu boto uns caras pra tocar, tipo Zé Ramalho ou Bob Dylan ou Belchior ou alguns malucos do blues nacional. No início Eles estão devagar, mas é só aumentar o ritmo das lambiscadas no copo de cerveja que o talento deles começa a fluir.
Então lembro da amiga que mora na Alemanha, e esqueço do fuso horário, e mando e mando pra Ela os links das músicas dos caras. É que a garota diz que curte as loucuras do Cadelão, e eu curto seu signo e seus papos sinceros, seu cabelo e sua voz.
Mas nossos horários não fecham. Deus não é perfeito, limitou-nos ao fuso horário. Já disse pra Ele, Tua Física me decepciona, meu brother.  
Horas antes de começar meu tour pela cerveja Ela está entorpecida pela tequila. Chama-me no Messenger quando está de pijama e embriagada, e eu aqui apenas rabiscando meus escritos em copos cheios.
Manda seus áudios divertidos com aquela voz linda e eu percebo a alegria com que o álcool drena suas histórias. É Brahma Extra, é puro malte, é Raiska, é blues no Bluetooth e vídeos picantes no WhatsApp.
Grande amiga, embora nos conheçamos apenas no mundo virtual. Parece estranho eu sentir a necessidade de conversar com Ela. Tem a ver com o fato Dela um dia  ter comentado que se diverte pra caramba com as maluquices do Cadelão, e que suas histórias lembram de outro velho safado que Ela gosta, um tal de Bukowski.

(B. B. Palermo)

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Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...