Garota, tudo bem você
falar do pó e da sujeira na casa da fulana, das manias dos patrões e das
conversas ríspidas entre familiares nos lugares onde você trabalha.
Em algum momento você
precisa transcender. Pouco importa se você é diarista ou advogada ou
empresária.
Você precisa subir,
subir, e embarcar no sonho de Ícaro, nem que seja com um baseado dos bons.
Você precisa se
inquietar e sacar que a vida não é só trabalho, fofoca, ruminar a todo instante
os sete pecados capitais - que só os outros cometem, claro.
E, por favor, mantenha
distância da TV e das novelas.
Sempre digo pro Beiço
que a melhor hora pra mijar ao ar livre nos fundos de casa sem ser notado pelos
vizinhos é quando passa a novela na TV.
Caralho, é batata, o
povo simplesmente fica hipnotizado diante do aparelho. Eu podia andar pelado
pela rua, eu podia plantar bananeira diante do salão da cabeleireira gostosa.
Eu podia...
Não serei flagrado se
estiver no ar o capítulo da novela. Cabeças imóveis, olhos vidrados e
espantados pela performance da vilã. Nossa, as velhinhas quase desmaiam e as
novinhas roem as unhas.
Cabeças paralisadas,
como se fossem esculturas, mortas como muros ou grades. Início da novela, fim da
novela. Porra, odeio essa magia rasteira, de telespectadores encantados.
Danem-se se isso funciona muito bem. Foda-se a linearidade. Não estou nem aí se
a fórmula é repetida porque sempre dá certo.
Em vez da TV, à noite eu
boto uns caras pra tocar, tipo Zé Ramalho ou Bob Dylan ou Belchior ou alguns
malucos do blues nacional. No início Eles estão devagar, mas é só aumentar o ritmo
das lambiscadas no copo de cerveja que o talento deles começa a fluir.
Então lembro da amiga
que mora na Alemanha, e esqueço do fuso horário, e mando e mando pra Ela os
links das músicas dos caras. É que a garota diz que curte as loucuras do
Cadelão, e eu curto seu signo e seus papos sinceros, seu cabelo e sua voz.
Mas nossos horários não
fecham. Deus não é perfeito, limitou-nos ao fuso horário. Já disse pra Ele, Tua
Física me decepciona, meu brother.
Horas antes de começar
meu tour pela cerveja Ela está entorpecida pela tequila. Chama-me no Messenger
quando está de pijama e embriagada, e eu aqui apenas rabiscando meus escritos em
copos cheios.
Manda seus áudios
divertidos com aquela voz linda e eu percebo a alegria com que o álcool drena
suas histórias. É Brahma Extra, é puro malte, é Raiska, é blues no Bluetooth e
vídeos picantes no WhatsApp.
Grande amiga, embora
nos conheçamos apenas no mundo virtual. Parece estranho eu sentir a necessidade
de conversar com Ela. Tem a ver com o fato Dela um dia ter comentado que se diverte pra caramba com
as maluquices do Cadelão, e que suas histórias lembram de outro velho safado
que Ela gosta, um tal de Bukowski.
(B. B. Palermo)
Nenhum comentário:
Postar um comentário