
Eu era Mameco
Armando era meu irmão.
Fomos esculpidos
Armando na frente
Mameco atrás.
Parapeito da janela
os olhos dos cotovelos
comprimiam o horizonte.
A curva da estrada
guardava seus segredos.
Armando era habilidoso.
No bodoque, era certeiro.
No trato com a bola, mais ágil.
Adorava trabalhos manuais.
Arredio, não gostava da escola.
Armando achava que tinha ciência
do que era necessário e suficiente
para dar tranco à vida.
Gibis e fotonovelas das irmãs
deixaram Mameco invocado.
A primeira foto
amarrado na cadeira
em frente ao galpão
foi seu passaporte
para o que viria depois.
Mameco maculou o quadro
eternizado na sala
de visitas da família.
Quem mirava a foto,
dizia, distraidamente,
que todos eram lindos.
Descobriu, mais tarde,
que não tinha se saído bem...
Mameco perdeu-se no milharal.
Roubou frutas dos pomares
contemplou lingeries
que secavam no varal.
Mameco não passou de ano.
Não ganhou bola, bicicleta,
ganhou castigo,
novena na gruta,
para expulsar a seca!