segunda-feira, 13 de abril de 2009

EU, E MEU IRMÃO



Eu era Mameco
Armando era meu irmão.
Fomos esculpidos
Armando na frente
Mameco atrás.

Parapeito da janela
os olhos dos cotovelos
comprimiam o horizonte.

A curva da estrada
guardava seus segredos.

Armando era habilidoso.
No bodoque, era certeiro.
No trato com a bola, mais ágil.
Adorava trabalhos manuais.
Arredio, não gostava da escola.

Armando achava que tinha ciência
do que era necessário e suficiente
para dar tranco à vida.

Gibis e fotonovelas das irmãs
deixaram Mameco invocado.

A primeira foto
amarrado na cadeira
em frente ao galpão
foi seu passaporte
para o que viria depois.
Mameco maculou o quadro
eternizado na sala
de visitas da família.

Quem mirava a foto,
dizia, distraidamente,
que todos eram lindos.
Descobriu, mais tarde,
que não tinha se saído bem...

Mameco perdeu-se no milharal.
Roubou frutas dos pomares
contemplou lingeries
que secavam no varal.

Mameco não passou de ano.
Não ganhou bola, bicicleta,
ganhou castigo,
novena na gruta,
para expulsar a seca!

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