Quando chegar aos quinze anos
você vai perceber que os lindos tênis de marca resultaram de meia dúzia de suadas
prestações.
Que os pais, tios e outros
amigos, nas reuniões de domingo, bebem bebem e repetem as velhas histórias.
Aos quinze anos, além dos
hormônios e dos conflitos monstruosos, notarás que a tua é apenas a primeira
adolescência. Quarentões, cinquentões, etecétera e tal deparar-se-ão com
adolescências tardias. Aquele tio ganhou da esposa uma bateria. Instrumento dos
sonhos quando tinha doze, treze anos. A tia fulana foi a uma viagem a Machu
Picchu com seu mais novo namorado, vinte anos mais jovem. E tua mãe, para dar o
troco à insensibilidade de teu pai e para sublimar o vazio da separação, vai às
baladas e se comporta como as garotinhas que estão próximas de frequentar a
universidade.
Ora, tudo isso não é lindo?
Quem sabe seja isso o que te
aguarda no futuro. E por que não?
Você, com a carga explosiva e
oscilante de alegrias e tristezas, amor, ódio e raiva, muitas vezes vai se sentir
abandonada na infância e velhice dessa tumultuada fase. Muita água vai evaporar
e muita dor vais sentir até reaprender a engatinhar. E chegará a hora em que
não haverá o abraço carinhoso de teus progenitores. Não serás mais a fadinha,
participarás de um filme de terror, dirás adeus àquela doce criança.
Sim. Terás que pular da cama
contrariada. Não tem volta.
Vestirás a armadura de mulher
adulta.
(Tiradas do Teco, o poeta
sonhador)