sábado, 31 de dezembro de 2022

Seja leve

 


Seja leve, 2023,

como um garoto 

zen budista

que ensina 

a esperar

o que era pra ter sido 

e quase foi.

Seja bom garoto, 2023,

continuo 

a esperar.


(B. B. Palermo)

sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Juízo

 

Dizia pro garoto:

Tu é 30 e poucos anos mais jovem

do que papai,

e tem mais juízo do que ele.

Tudo bem.

Cada um percorre e constrói 

o seu próprio caminho,

mesmo que habitemos 

o mesmo hospício. 


(B. B. Palermo)

quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Medo de morrer

 


Quando as panturrilhas doem,

o coração não vai bem.

O fígado,  ah, esse pobre coitado, deve estar num farelo,

preciso dar uma olhada nele.

O médico falava dos meus órgãos, 

como se fosse mecânico falando de carburadores,

vazamento do radiador ou qualquer outra peça desregulada. 

Cretinos invadem nossa vida

como se fossem moscas em dias de calor e umidade 

e copos de cerveja pela metade

azedando sobre a mesa

de um dia para o outro.

Tantos pitacos,

vontade de fugir,

e não suporto bares vazios,

é terrível encarar a mim mesmo

diante do espelho 

do banheiro. 

Beira a doentio ouvir velhos papos,

futebol,

política, 

negócios...

o mesmo de sempre.


Algo está errado. 

Não consigo me afastar desses cretinos previsíveis. 

Deve ser a idade ou força do hábito,

que nos leva a perguntar do coração, 

rins,

próstata, 

fígado e tals...

como se perguntasse da saúde dos cães e gatos e das amantes. 

Escrotinhos,  eu sei o que se passa: 

temos medo de morrer.


(B. B. Palermo)

quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Pra onde escorre

 


O povo que circula em Texas Beach 

tem comido tanto...

Gente, é um apetite insano,

até as gôndolas dos mercados 

contendo papel higiênico 

esvaziaram. 

Aí eu me locupleto:

Pra onde vai toda

essa merda?

À noite sonho,

deliro,

tenho pesadelos,

e neles estou na praia 

portando faixas, 

cartazes,

pedindo que fechemos as bocas 

e esvaziemos as panças.


(B. B. Palermo)

segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Disritmia

 

Cães órfãos, 

nessas festas

de Natal e Ano Novo

exibimos nossos 

rabos

como se fossemos 

presunto 

ou cerveja

anunciados 

em comerciais 

de TV.


(B. B. Palermo)

sábado, 24 de dezembro de 2022

Ninguém é o Cara!

 Ninguém é o Cara! em sua própria morada


Conduzo meu pet,

aplaudo as frases 

que dão autoria a Shakespeare, L. F. V.,

Clarice Lispector e Quintana.

Frequento grupos de assistência social, 

sou cara do bem,

sou zen, eclético e

metódico,

enfim, faço meu teatro.

Nada disso me define 

porque não conheço nem domino meus demônios. 

Posso agarrar as muletas de Descartes

gritando aos 4 ventos que se

Penso então sou,

ou lamber o saco do Freud

usando como desculpa

pras cagadas diárias que

O sujeito não é o senhor em sua

morada.

O que importa é que somos especialistas em

Eu finjo,

tu finges,

ele finge,

nós...


(B. B. Palermo)

quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Eles


bêbados gostam de tocar 

abraçar

acariciar 

uns carentinhos 

que adoram cães abandonados 

circulando próximos 

aos bares

animaizinhos 

bem alimentados 

com olhar mais leve 

e alegre

do que os pobres 

que estão vigiando

pátios 


(B. B. Palermo)

terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Papelões de 2022

 

Parece patético,  eu sei,

mas estou sem papel 

para aprisionar alguma

assombração 

que rondar a mente. 

Papel higiênico tem,

papel de parede

no cafofo também tem,

inclusive guardanapos. 

Papelões de conhecidos doidos fazendo cócegas 

em meus poemas,

nem se fala.

Restou o calendário 

de 2022 que a senhoria 

pendurou 

na parede da sala.

Como o ano está findando, 

reservei suas folhas

para rabiscar eventos hilariantes 

que vivi

e os papelões que colecionei,

e que um dia saberei se foram

fundamentais 

em minha história. 


Vontade de rir ou chorar 

eu tenho de montão, 

muito mais do que os estoques

de folhas em branco que possa

comprar.


(B. B. Palermo)

domingo, 18 de dezembro de 2022

Capitu meteu chifres no Bentinho


Pessoas enlouquecidas, 

vespas foram expulsas por tochas de fogo,

criaturas gritam exageradas 

e até desesperadas 

uns bullyings sofridos na infância. 

Fãs de inteligências "superiores",

lembram e idolatram Hitler,

e odeiam os que leem livros. 

Dizem que Machado de Assis, ao escrever Dom Casmurro, sabia Com certeza! que Bentinho

foi chifrado por Capitu.

Quando cheguei no bar

e o maluco veio em minha direção, 

o garçom falou:

Não entre na paranoia dele,

é um louco!

Mas se você quer criar boas histórias,

tipo as do Nelson Rodrigues, 

então preste muita atenção. 


(B. B. Palermo)

terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Papai Noel vestia vermelho


Numa das artérias principais da cidade,

um Ford T 1929 (primeiro carro do meu finado pai),

passou exibindo um Papai Noel magrinho,

constrangido,

vestindo roupa vermelha.

Foi sorte haver pouca gente na rua.

Seria terrível ver o pobre

ser bombardeado

por pedras arremessadas

por patriotas

enlouquecidos.

 

(B. B. Palermo) 

domingo, 11 de dezembro de 2022

Acelera, Cadelão!

 

Última semana por aqui,

estou me despedindo das coisas.

Olho pra geladeira e lembro dos latões de cerveja

que "explodiram" no seu congelador, nas madrugadas,

deixando um rastro de manchas nas partes internas

de suas portas.   

São várias as tatuagens do fogão,

manchas de gordura, panelas quase queimando,

enquanto o ridículo cochilava embriagado no sofá.

Há centenas de marcas também na mesa de madeira,

afinal ela está comigo  faz umas 3 décadas.

Nela eu estudo, eu como e bebo.

A cama, idem. É incrível como ela sobrevive,

basta bater uns pregos e apertar os parafusos

da cabeceira.

O guarda-roupa é o soberano do quarto,

tem uma parede só para si,

e reclama que foi pouco lustrado, teve pouco brilho,

embora nunca tenha sido atacado pelos cupins.

A lareira me acompanha há umas 2 décadas e meia.

Sem ela, as noites de inverno seriam terríveis

para o poeta.

4 estantes guardaram os livros, uns bons,

outros ruins e outros mais ou menos.

Fiz questão de colocar os meus, "publicados",

junto aos livros do Dostoievski, do Hemingway

e do Bukowski.

O maluco que agora se despede

nunca foi internado em clínicas psiquiátricas,

não lembra se um dia usou drogas,

tem visão e audição em razoável estado de conservação,

tamanha a sua idade.


Acelera, Cadelão!

 

(B. B. Palermo)


O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...