Eu trago comigo algum consolo, baby,
de ter dançado entre vinis riscados
enquanto o mundo ardia nas entrelinhas
dos
jornais.
Me ensinaram paz e amor,
mas nunca me disseram onde doía.
Cresci no colo de Rita, Raul e Belchior –
mestres de uma juventude que não lia
editoriais,
mas entendia o grito engasgado
nas guitarras e nas entrelinhas das canções.
O noticiário? Era só barulho branco
e eu, sem saber, me tornei cúmplice
do
silêncio.
A música me salvava, baby,
como salva um náufrago em terra firme,
e eu compreendia a Rainha do Rock
como quem entende uma profecia
em
forma de refrão.
Depois vieram os livros e os amores de
estação,
as revoltas com hora marcada,
as tardes de domingo cheias de utopia.
E, por um tempo, acreditei:
talvez o mundo ainda coubesse no peito.
Mas escuta esta – olha nos meus olhos:
também fui chamado de ovelha negra da família,
com um certo orgulho, confesso,
como quem carrega no bolso um verso proibido
e sorri porque sabe que ainda arde.
(B.
B. Palermo)