segunda-feira, 30 de junho de 2025

Tomei um porre ouvindo Pink Floyd (Ou: Tenho uma coisinha pra dizer)


Rapaz, volta pro eixo.
Nessas alturas da vida
é patético andar com um pé na igreja
e o outro afundado no balcão do boteco.
Sei que os puteiros andam fracos,
crise, inflação, promoções nos mercados:
frango a 1,99,
vinho ruim a 12 pilas,
e essa alergia às responsabilidades
(ou seria só falta de vergonha na cara?)
não larga do meu calcanhar.
Posso estar alto,
mas te juro que estamos
cada vez mais desvairados.
Dica: vamos sair do ar por um tempo.
Ninguém é obrigado a suportar a vida que leva.
Tudo bem, talvez meu papo esteja
um tanto Belchior demais,
mas é isto:
nossa alucinação é suportar o dia a dia,
nosso delírio é viver coisa real.
Semana passada sonhei
como quem vive dentro de um aquário.
E acordei com essa frase piscando na testa:
"Crie bons hábitos para espantar o óbito".
Procurei ajuda.
Fui pro CAPS.
Me atendeu uma psiquiatra novinha,
uma magrela de doer...
em todos os sentidos.
Me apaixonei, claro.
E desembuchei.
Falei dos meus delírios,
das visões,
das premonições que me assombram.
Falei como quem finge ser poeta,
mas só queria colo. E ela, fria como madrugada de segunda:
“Palermo, larga essa mania de mundos paralelos.
Sonho é sonho, não é profecia.
Todo mundo delira.
Todo mundo viu Deus com LSD.
Todo mundo viu luz,
ninguém tropeça na sombra.
Não me venha com essa baboseira espírita.
Não terceiriza tuas cagadas pro além”.
Rapaz... é isso.
Mas deixa eu dizer só mais uma coisinha:
Voltemos a ser o bando de caóticos
radiantes ao ver o rabo das ciclistas
passando como relâmpago pela avenida.
O resto é porre
e boleto pendurado
pro final do mês.

(B. B. Palermo)

Tomei um porre ouvindo Pink Floyd (Ou: Tenho uma coisinha pra dizer)

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