domingo, 1 de março de 2020

Um pouco de Cacaso



CACASO  (ANTÔNIO CARLOS DE BRITO)
(1944-1987)
Nasceu em Uberaba (MG), no dia 13 de março de 1944. Com grande talento para o desenho, já aos 12 anos ganhou página inteira de jornal por causa de suas caricaturas de políticos. Antes dos 20 anos veio a poesia, através de letras de sambas que colocava em músicas de amigos como Elton Medeiros e Maurício Tapajós. Seu primeiro livro, "A palavra cerzida", foi lançado em 1967. Seguiram-se "Grupo escolar" (1974), "Beijo na boca" (1975), "Segunda classe" (1975), "Na corda bamba" (1978) e "Mar de mineiro (1982). Seus livros não só o revelaram uma das mais combativas e criativas vozes daqueles anos de ditadura e desbunde, como ajudaram a dar visibilidade e respeitabilidade ao fenômeno da "poesia marginal", em que militavam, direta ou indiretamente, amigos como Francisco Alvim, Helena Buarque de Hollanda, Ana Cristina Cezar, Charles, Chacal, Geraldinho Carneiro, Zuca Sardhan e outros. No campo da música, os amigos/parceiros se multiplicavam na mesma proporção: Edu Lobo, Tom Jobim, Sueli Costa, Cláudio Nucci, Novelli, Nelson Angelo, Joyce, Toninho Horta, Francis Hime, Sivuca, João Donato e muitos mais. Em 1985 veio a antologia publicada pela Editora Brasiliense, "Beijo na boca e outros poemas". Em 1987, no dia 27 de dezembro, o Cacaso é que foi embora. Um jornal escreveu: "Poesia rápida como a vida".

Em 2002 é lançado  o livro "Lero-Lero", com suas obras completas.
Fonte da biografia: www.releituras.com/

Uma girafa chamada Sofia desfila nas avenidas



Pela manhã houve um aguaceiro.
Agora, sábado de tarde, a chuva está mansa.
Momento ideal para observar três anões,
Zangado e Feliz e Dengoso,
sorridentes e imóveis e amarelados pelo sol e pela chuva,
descansando eternamente debaixo da figueira,
num lugar de minha infância.

Naquele tempo havia por aqui
um mandiocal cravado na terra vermelha,
e hoje há uma bela piscina
e um muro fazendo pose,
ao lado de trepadeiras e coqueiros
e limoeiros e outras plantas
e flores e grama.

Eis a prova irrefutável da transformação.
Minha barriga de cervejeiro quarentão
também passou por metamorfoses,
e não é saudosismo do garoto sarado
de 18, 20, 20 e poucos anos
no auge das paixões e bronhas.

Hum... Perdoem-me por permitir 
que a chuva regue antigas lembranças.
Talvez eu valorize mais uma frase carregada de estilo
do que recordar vivências que marcaram
o mundo infantil.
Quem me aconselhou foi Guimarães Rosa,
o do "Grande Sertão: Veredas",
num certo sonho.
Ele disse:
"Independente da realidade,
seja passado ou presente ou futuro,
faça literatura, faça literatura".
Segundo o próprio,
uma frase bem elaborada, estilosa,
é mais importante do que os efeitos
do Coronavírus, ou dos problemas ambientais, ou...
Não se preocupe se a maioria disser
que você faz algo estranho,
como se fosse uma girafa chamada Sofia,
ameaçada de extinção,
que teima em fazer malabarismos nas avenidas.

Tudo se transforma...
E não quero (e nem posso) carregar nas costas
os problemas desse mundo,
nem me prender às redes
de insônias políticas e ideológicas.
A arte anda meio abandonada,
ou fora de moda.
Para se embrenhar no ato criativo
é preciso transcender,
aceitar-se girafa,
caminhante solitária,
incompreendida pela multidão,
ideologicamente ensandecida.
Se nem Cristo e Buda e Maomé e Alá,
nem os santos e Marx e Freud e outros mais
resolveram os problemas desse mundo,
por que serei YO o herói?

Eba! Acabo de receber uma mensagem pelo WhatsApp...
Alguns amigos me chamam do bar.
Lá, depois de 3 ou 4 copos,
teremos encontrado soluções,
com nossos belos discursos,
(como se fôssemos lideres de classes trabalhadoras)
para resolver os problemas que nos cercam.

(B. B. Palermo)

Toda Lorena

  Olhava pro fogo mágico do entardecer, que mais parecia uma lareira mandando bem em viagens noutras esferas. Me encanto ao ver minha musa p...