sábado, 17 de agosto de 2019

eddie e eve


você sabe
sentei no mesmo banco de bar por 5 anos na
Filadélfia

eu bebia álcool etílico e o vinho mais barato
apanhava nos becos de caminhoneiros bem-
alimentados
apenas para diversão de
senhoras e senhores da noite

nada lhe direi da minha vida de criança
é doentiamente 
irreal

mas o que quero dizer
é que fui enfim ver meu amigo eddie
depois de 30 anos

ele continuava na mesma casa
com a mesma esposa

deixo você adivinhar:
ele parecia bem pior do que eu

não conseguia se levantar da cadeira

uma bengala
artrite

o que restava a ele de cabelo havia
embranquecido

meu deus, eddie, eu disse.

eu sei, ele disse, me fodi, não
consigo respirar.

então sua esposa apareceu. aquela que uma vez fora a
magra
Eve com quem eu costumava flertar.
95 quilos
me olhando de soslaio.

meu deus, Eve, eu disse.
eu sei, ela disse.

ficamos todos bêbados. muitas horas depois
Eddie me disse,
vá para a cama com ela, faça-lhe algum bem,
eu já não sirvo para nada
mais.

Eve deu um risinho.

não posso, Eddie, eu disse, você é meu
chapa. 

bebemos um pouco mais.
infinitas garrafas de
cerveja.

Eddie começou a vomitar.
Eve lhe trouxe uma bacia
e ele vomitou dentro da 
bacia

me dizendo entre os espasmos
que nós éramos homens
homens de verdade
sabíamos as coisas de fato
por deus
esses moleques
não sabiam de nada.

levamos ele para a cama
tiramos sua roupa
e ele logo apagou,
roncando.

me despedi de Eve.
fui embora e entrei no meu carro
e fiquei ali sentado olhando para a casa.
então dei a partida.
era só o que me restava fazer.

(Bukowski, do livro "Queimando na água, afogando-se na chama".)

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