sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

De como Malazarte vendeu o urubu

O dono da casa, vendo que o urubu de Pedro Malazarte era encantado e sabia descobrir todos os segredos, propôs-lhe comprá-lo.
Malazarte, pescando que estava em véspera de fazer um bom negócio, encareceu ainda mais as virtudes do urubu e pediu este mundo e o outro.
O homem vacilou em fechar o negócio, e Pedro, justamente quando uma preta velha veio trazer café à sala, disse ao dono da casa, de modo que a mucamba ouvisse:
- Este bicho é deveras encantado, patrão. Ele é capaz de descobrir outras coisas que se passam em sua casa sem o senhor saber.
- Não me diga isto!
- É o que lhe digo. Mas, para que ele não emudeça e possa contar tudo que tenha visto, é preciso que haja o maior cuidado para que nenhuma mulher lhe verta água na cabeça. E se quiser experimentar deixe-o esta noite ficar no corredor, que amanhã teremos que saber muitas novidades.
O homem aplaudiu a proposta e prometeu comprar o urubu, se saísse certo o que lhe dizia o Malazarte.
Mas a preta que tinha ouvido a combinação mal saiu da sala foi contar tudo à senhora, que ficou muito assustada, pois que, naquela noite, havia de receber a visita do sacristão da vila, e não sabia como arranjar para que o urubu candongueiro não pusesse tudo a perder.
A preta teve uma luz, e disse que não havia perigo, pois ela se encarregaria de verter água na cabeça do urubu para que ele perdesse o encanto.
Às tantas da noite todos se foram acomodar, tendo Malazarte cuidado de deixar o bicho no corredor, fazendo de sentinela.
Vai senão quando, lá para a virada da noite, a dona da casa, pé que pé, veio abrir a janela, por onde saltou para dentro o sacristão, enquanto a preta estava fazendo o que prometera na cabeça do urubu.
Quando o bicho se viu com a cabeça toda molhada, não teve mais conversa – tico! e deu uma bicada na preta lá onde quis e ela ficou segura, e vai então a negra soltou um grito.
A senhora, temendo que o marido despertasse, correu para arrancar sua mucamba do bico do bicho. Agarrou-a pelo braço, mas não houve meio. A rapariga, então no auge do aperto, apregou-se no braço da senhora, que se pôs também a gritar. O sacristão acudiu para ver se podia ajudar as duas a desvencilharem-se. Mas já a este tempo, Pedro Malazarte havia despertado o dono da casa. E os dois correram a ver o que era e encontraram aqueles três assim como estavam.
E vai então o dono da casa descobriu tudo, desancou o sacristão a pau, moeu os ossos tanto da senhora como da escrava e resolveu comprar o urubu.
Mas aí é que foi a história. Pedro Malazarte pediu pelo bicho cinco contos de réis. Abate que não abate, o homem teve mesmo de encorropichar o cobre, vintenzinho por vintenzinho, e Pedro Malazarte, deixando ficar o urubu, de quem se despediu chorando, pôs-se a caminho, mas vendo no pátio da fazenda uma carneirada, resolveu levá-la também e foi tocando como se fosse dono dela.

Do livro Os grandes contos populares do mundo. Organizado por Flávio Moreira da Costa.

Novo homem!

  Grãos de areia interditaram meus olhos nesta quarta-feira de tarde, bastou umas calcinhas no varal tomarem banho de sol e ousarem ...