Caminhava
em direção à praça e ensaiava pensamentos
pra
cima, tipo Hoje serei o cara, um privilegiado,
coisas
bizarras marcarão encontro comigo!
Garotas
e garotinhas entravam nos mercados com as roupas de banho,
vinham
direto da praia e sua fome e sede, aposto,
eram
do meu tamanho.
No
centro da praça o DJ testava o som num volume
que
até espantava os pobres peixinhos, os papa-terras
que
senhores disciplinados e cheios de fé pescavam
desde
a madrugada na praia, logo ali.
O
cretino meteu uns sons bem pancada.
Lembrei-me
dos ancestrais batucando e dançando ao redor da fogueira
em
noites de terror, numa época infantil da humanidade.
Aliás, que época vivemos hoje?
Então
o DJ botou pra rodar a “Eguinha Pocotó”.
Não
teve jeito, caí do cavalo!
Verão,
praia, sábado de noite, óbvio que a multidão avançava
e
a praça engrossava.
Bebi
algumas caipirinhas e a música melhorou.
Eis
que ela apareceu, pegou na minha mão e eu em sua cintura
e
dançamos uma porrada de sambas.
Patrocinei
umas caipirinhas de vodca, que ela bebeu num canudinho
e
não dividiu comigo.
–
Meu bem, você pode ter dois caras, eu não tenho ciúmes,
tenho
lido sobre o poliamor!
Botou
as mãos em volta do meu pescoço e fomos com tudo
num
samba do Adoniran.
Outra
caipirinha – que eu paguei e ela bebeu sozinha –,
e
então murmurou no meu ouvido:
– Querido, se um traste já é insuportável,
tu
imagina eu com dois!
(B. B. Palermo)