sábado, 29 de julho de 2023

Por que não te matas?

 


Cara, te falei que os cães do Texas

têm algo de diferente, né?

Ontem, quem me impressionou foi uma garota. 

Disse que seu nome era Su.

Chegou no bar acompanhada de outras garotas.

Trocamos olhares, eu meio alto,

creio que ela também, e aí partiu pro jogo de sedução,

e quase me arrastou pra noitada.

- E tu não foi, Cadelão?

Cara, ela perguntou meu signo e, batata, fechou com o dela: geminianos.

Quis enrolar, dizendo que sou cara estranho, imprevisível, inconfiável.

Aí, quis saber o dia que nasci,

e garantiu que sou assim por causa das conjunções tais e tais  

e que isso estava escrito nas estrelas.

Aí que tá,  Beiço, senti que a manha dela não era de simples astróloga. 

Foi sedução de uma sereia 

que nos pega de calça curta, como no dia em que você medita na praia e acontece o milagre. 

- Tá... e aí?

- Colou seu corpo no meu

e uma onda de calor me percorreu,  

dos pés à nuca.

Falei "nossa, tu é quente demais!"

e ela "querido,  sou Índia, sou cabocla, sou filha de Iansã".

Foi me abraçando e beijando e o Júnior, lá embaixo, louco pra batalhar. 

Foi então que algo estranho aconteceu...

senti um desamparo, 

uma força inexplicável quis me afastar dali.

Lembrei do pobre cartão de crédito 

e no milzão que ia queimar. 

- O que, tu deu pra trás??

- É,  cara, tremi de medo, recuei e saltei fora.


- CADELÃO,  POR QUE NÃO TE MATAS??


(B. B. Palermo)

sexta-feira, 21 de julho de 2023

Vodko da realidade

 


Ao notar meu amigo

naquela tremedeira, 

apanhando o copo com as 2 mãos 

pra não derramar,

senti que ele estava 

ficando vodko da realidade.

Meu amigo poeta 

não parecia desesperado 

com tais bebedeiras 

e tremedeiras.

Fitava-me e ria 

de minha cara 

de Cadelão que espera

pelo milagre.

Gargalhava, 

enquanto repetia:


A LONGEVIDADE É UM BEIJO!


(B. B. Palermo)

terça-feira, 4 de julho de 2023

Tenha juízo, Marco Aurélio!

 


À noitinha, no bar número 4 ou 5, sei lá, 

Marcão contava detalhadamente o estresse 

que tivera no trânsito.

11 da manhã, seguia pela avenida em direção ao primeiro bar, 

na preferencial, quando foi fechado

por um babaca que dirigia um furgão.

A ousadia do sujeito sacudiu seu senso de justiça:

O mundo está uma bosta por causa desses imbecis!

De súbito baixou o espírito de dom Quixote,

e o garoto de vida tranquila de quem mora numa praia sossegada

foi jogado num canto e entrou em cena um justiceiro de 70 anos.

Marcão pirou ao lembrar das crianças indefesas

nas ruas, nas creches, nos lares desestruturados,

suscetíveis de serem torturadas por uns monstros.


Ação, muita ação.

Acelerou numa terceira,

ultrapassou o cara,

diminuiu a velocidade do carro

e fez peripécias, provocando o sujeito...


Todos no bar, ouvindo sua narrativa,

ficamos preocupados.

Caralho, imagina se o cara do furgão tivesse uma arma.

Poeta Cadelão como sou, pensei 

Uau! Até que enfim surge diante dos olhos 

um garoto pirado,

agindo mais pelo instinto e pela emoção 

e menos pela razão!

Estou de saco cheio dessa gentalha certinha,

os mesmos papos, a velha rotina 

e nenhuma imaginação.


Foi quando o Zé tomou a palavra:

- Marco Aurélio, seja menos egoísta.

Tu já tem 70 anos!

Tu precisa se preocupar com a vida dos outros.

Numa linguagem afiada, Marcão devolveu:

- Zé, nem vem, seu fdp, não me importo se morrer hoje.

- Não, tu carregava uma vida preciosa,

o Júnior, teu Pinscher, estava no banco detrás do carro,

e nem estava na cadeirinha!

- Eu tava sozinho, Zé, vai tomar no c*!

O Júnior tomava banho no pet shop!


Disse isso, entrou no carro 

e colocou um Rolling Stones 

pra tocar a todo volume 

e saiu cantando pneu.


(B. B. Palermo)

O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...