O chão, de repente, é um cemitério de fios.
Meu rabo de cavalo, breve como promessa de verão,
caiu inteiro no colo do João,
Foi um sonho adolescente que esperei tarde demais,
um ato de rebeldia com prazo de validade.
Eu, enfim livre das opiniões previsíveis,
me convenci de que poderia sustentar
aquele pedaço de vaidade amarrado
atrás da cabeça.
Então veio ela,
a musa alfa, ciclone recente,
dona de todos os meus pensamentos e
dívidas emocionais.
Na praia, o vento penteava meus fios
como se conspirasse comigo.
Ela foi simples, certeira:
- Deixa de ser ridículo, menino levado.
Corta esse cabelo de gente!
A frase ficou tremendo no meu peito
como onda que não quebra.
Dois dias depois, entre navalha e gargalhadas,
o rabo caiu.
Não sei se perdi um cabelo
ou ganhei um mapa
aonde ela guarda
tudo o que ainda não sei de mim.
(B. B. Palermo)