quarta-feira, 26 de março de 2014

O Pavão - Rubem Braga



Eu considerei a glória de um pavão ostentando o esplendor de suas cores; é um luxo imperial. Mas andei lendo livros, e descobri que aquelas cores todas não existem na pena do pavão. Não há pigmentos. O que há são minúsculas bolhas d'água em que a luz se fragmenta, como em um prisma. O pavão é um arco-íris de plumas.

Eu considerei que este é o luxo do grande artista, atingir o máximo de matizes com o mínimo de elementos. De água e luz ele faz seu esplendor; seu grande mistério é a simplicidade.

Considerei, por fim, que assim é o amor, oh! minha amada; de tudo que ele suscita e esplende e estremece e delira em mim existem apenas meus olhos recebendo a luz de teu olhar. Ele me cobre de glórias e me faz magnífico.
Rio, novembro, 1958

domingo, 23 de março de 2014

Tirada do TECO - na mesa do bar


De nicada
em nicada
não ganho
        o jogo
         titias!

(nem desespero
ao evaporarem
           os dias)

Ganho aos estrelas
quando cativo
as gurias!

sexta-feira, 21 de março de 2014

Improvisar não dá!

Estava falando aos alunos sobre a questão da linguagem em Platão. De que, para este filósofo, a linguagem convencional não possibilita atingir o "verdadeiro" conhecimento, por ser mutável, aleatória, agarrada às opiniões cotidianas. Vendo que os alunos estavam se interessando "pacas" pelo tema, pedi para que analisassem a palavra (ou conceito) "amor". Deram vários exemplos de amor, e também o que consideram que este seja. Pedi então para uma aluna localizar no google o poema do Vinicius, que segue abaixo. Solicitei para que lesse para a turma. O que mais chamou a atenção de todos foram os dois últimos versos do soneto:



Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

 Depois da leitura do poema, eles disseram que entenderam Platão. E eu não entendi mais nada...



Soneto de Fidelidade

Vinicius de Moraes

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.



Vinicius de Moraes, "Antologia Poética", Editora do Autor, Rio de Janeiro, 1960, pág. 96.

Novo homem!

  Grãos de areia interditaram meus olhos nesta quarta-feira de tarde, bastou umas calcinhas no varal tomarem banho de sol e ousarem ...