Você pensa demais, Cadelão.
E viaja também.
E sonha umas coisas que vou te contar.
Diz que participou do exército de Napoleão.
Esteve no quarto do Kafka, no dia em que o maluco
acordou
metamorfoseado numa barata.
Você viaja um baseado.
Foi um negro americano esquizofrênico
analisado por Jung.
Se apaixonou pela mãe de Pedro II.
Você diz que esteve em todos os carnavais do Rio.
Você morreu em todas as páscoas e, claro,
ressuscitou.
Você bateu um papo cabeça com Alice,
aquela do País das maravilhas.
Você visitou as Sete Quedas do Leminski,
conversou com ele no dia
em que nasceu o seu poema.
Você diz pra todo mundo que já foi bispo,
padre, psicólogo, cafetão.
Você construiu andaimes que te levaram ao céu,
mais do que a Torre de Babel.
Você entrou nos quadros de Van Gogh
e viveu as paisagens que o gênio pintou.
Você jura que foi criador de porcos, alfaiate,
um pobre mosquito que caiu nas armadilhas
de uma aranha apaixonada.
Você conhece todas as obras, vistas e admiradas,
de todos os museus do planeta.
Você sonha umas coisas que vou te contar, Cadelão.
(B. B. Palermo)