Beiço,
o sumido mais estranho que eu conheço,
bateu
aqui em casa esses dias.
Abriu
o porta-malas do Corcel II e foi despejando sacos
com
uma mistura de areia, terra e composto orgânico,
e
potes, bacias, garrafas plásticas
e
uma garrafa de uísque vagabundo.
-
Cadelão...
-
O que manda, desgraçado?
-
Cara, descobri minha terapia.
Farei
como tu, príncipe vagabundo,
plantarei
e criarei meus mantimentos.
-
Vai com calma. Ando numa ressaca braba,
como
podes ver. Por ora, só localizo
uns
tomates bichados em minha horta.
Beiço,
Beiço, de terapia tu já tem milhões
de
quilômetros rodados, inclusive no CAPS.
Agora
tu me vem com esse papo de sustentabilidade?
Ficou
insano?
-
Não, Cadelão, é sério, vamos criar o novo estoicismo
e
faturar muita grana!
-
Desconfiava que tu logo viria com mais um plano mirabolante,
tipo
fazer palestras e tals pra enriquecer.
Mas,
cretininho, não tenho a menor vontade de palestrar
pra
um bando de bobocas que se deixam enfeitiçar
e
se alimentam da autoajuda.
Vá
pro inferno com esse "novo estoicismo".
Minhas
plantinhas não têm preço!
-
Véio, é a nossa chance!
-
Sim, sim, como daquela vez que raspamos a cabeça
e
vestimos um "traje" budista e saímos a palestrar
sobre
nossa experiência de um ano meditando no Himalaia.
lembra,
maluco?
-
Bah, cara, foi uma boa ideia.
Pena
aquele bêbado sentado nos fundos de um auditório
ter
nos reconhecido.
-
Relaxa, garoto. Vamos beber!
(B.
B. Beiço)