quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Uma calcinha vermelha



No ano em que Elis veio de Curitiba me visitar, eu tinha um fusca azul com umas rodas e um volante e um som que eram a minha cara.
Naqueles dias, enquanto eu cheirava a cachaça, o fuscão cheirava a gasolina.
O pobre do mecânico do bairro tirava o tanque, lavava o tanque, virava o tanque do avesso e nada de encontrar o vazamento.
Assim que chegou, Elis analisou o ambiente do meu lar e disse que umas cortinas nas janelas da sala cairiam bem.
Percebi que ela tinha planos para mim. Isso me deixou em pânico.
Tudo veio abaixo quando ela remexeu o guarda-roupa e encontrou uma calcinha vermelha.
Pegou, de uma gaveta, uma tesoura enferrujada e fez picadinho.
Não consegui esconder certa satisfação com a sua raiva.
 Ela retalhava e gritava:
Cadela! Piranha! Vadia!
Aos seus olhos, CADELÃO era um garoto ingênuo e, por isso, um indefeso aos ataques das vagabundas.
Eu gostava daquele ciúme e me achava.
Falei da loira, suas coxas musculosas, novinha e estudante de psicologia, de lábios carnudos e que mordia minha boca sempre que gozava.
Elis ouvia com atenção e com olheiras e queria saber mais detalhes.
Daí a pouco emputeceu e sumiu o dia inteiro.
Voltou à tardinha e me presenteou com um pijama de seda, trouxe também cortinas pras janelas e umas compras do mercado.
Não quis jantar fora, cozinhou nosso prato preferido: molho de galinha e massa, com muito queijo e alho e pimenta.
Depois de duas taças de vinho, Elis, mais serena, quis saber detalhes de como a piranha loira e musculosa e cadela e novinha transava.
Mais tarde ela disse que ia tomar banho e depois me ensinaria umas coisas.
Fiquei meio nervoso, não queria ser um Cadelão traidor, pensar na loirinha musculosa enquanto Elis cavalgasse.
Rapidinho, suguei três doses de uísque do Paraguai.
Ao sair do banho, Elis não quis saber de conversa e partiu pra aula prática.
Aprofundou-se nos detalhes, repetimos, repetimos a lição.
 Foi a primeira vez que dei uma trepada com alguém rebolando a bunda daquele jeito.
Parecia rainha de escola de samba num ensaio pro carnaval.
Elis era uma especialista. Elis sabia ensinar.
Hoje, contando pra vocês, eu morro de vergonha.        
Eu não sabia trepar.

(B. B. Palermo)

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